Coronavírus extermina “reformas” neoliberais

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Foto: Vinny C./CB/D.A Press

A agenda do governo no Congresso derreteu. E as últimas gotas escorreram no panelaço da última quarta-feira, quando ficou evidente, também, o forte desgaste de Jair Bolsonaro junto à população. Tal condição somete foi possível porque a usina de crises do Palácio do Planalto forneceu a temperatura adequada para a fundição, conforme avaliam políticos e especialistas questionados sobre a relação do presidente com o Poder Legislativo. A expectativa é de que, para tramitar, qualquer pauta reformista do governo — em especial as econômicas –– que seja do interesse dos parlamentares, se descole dos ministros.

Após convocar manifestações em apoio a si mesmo e tratar a pandemia do coronavírus como uma “guerra de poder” e uma “histeria”, restou a Bolsonaro poucos pontos de contato com os congressistas. Essa relação agora existe, somente, em decorrência da pandemia, e é difícil afirmar o quanto desse relacionamento há de se restabelecer. O vice-líder do bloco parlamentar PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, Pros, Avante e Patriota, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), é duro ao falar sobre o presidente.

“Acho que já estava claro, e esse episódio do coronavírus consolidou, que o Bolsonaro está longe de ter o tamanho da Presidência da República. Ele é muito menor. No momento que mais precisamos de um líder para unir e conduzir, ele divide, jogando com o setor radical, e deseduca, verbalizando uma orientação contrária à do Ministério da Saúde. Em relação a uma pauta do governo, antes da crise eu já dizia que o ano caminhava para ser dado como perdido. Agora, do ponto de vista econômico, isso se consolida. Espero que para as medidas emergenciais, relativas à pandemia, o governo não seja lento e efetivamente encaminhe as MPs e projetos para que a Câmara possa resolver, já que estamos dando respostas rápidas”, ressaltou.

Ramos destaca o panelaço como o maior dos sintomas do isolamento do presidente. E diz que o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisa parar de pensar em macroeconomia e focar nas reformas microeconômicas para lidar com o momento do país.

Por outro lado, há quem diga que é possível apaziguar os ânimos. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) destaca que, no último ano, o Congresso sempre esteve “muito disposto a ajudar o governo”, e que “a grande maioria trabalhou no sentido de apoiar as propostas do presidente”. “A relação sempre foi de muito respeito. Agora, acredito que melhora um pouco porque a situação faz com que a gente se una. Todos pensam em um só objetivo, que é evitar o mal maior dessa pandemia: a morte de pessoas em função do vírus”, garante.

No Senado, somente o coro contra a crise do coronavírus salva Bolsonaro. Ainda assim, parlamentares avisam que vão acompanhar de perto as ações do governo. “Estamos em uma quadra de incertezas, de comoção mundial. Ninguém pode politizar este momento, mas nós não podemos deixar de lado o papel fundamental do Congresso Nacional, que é de fiscalização e controle. Neste instante de pandemia, de medo e de dor, estamos todos juntos, inclusive para fiscalizar, a fim de que injustiças não possam ser cometidas no nosso país”, frisa a líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), que pediu o monitoramento, por parte do Legislativo, de como o governo federal vai utilizar os recursos no combate à pandemia.

Para o líder do PSD no Senado, Ângelo Coronel (BA), é difícil afirmar se a boa vontade do parlamento com o governo continuará quando a crise tiver fim. Os episódios que antecederam a infestação pelo novo coronavírus, como a manifestação do último domingo, em que o parlamento foi alvo das principais críticas dos apoiadores do presidente, ainda incomodam.

“Os financiadores de robôs e os fanáticos das redes sociais deveriam acordar e ver que, sem o apoio do Congresso Nacional, todos os governantes estão fadados ao fracasso”, destacou o senador.

Também prejudicou, na avaliação do parlamentar, o ataque do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpou a China pela proliferação do novo agente infeccioso. “O governo, parentes e alguns dos seus membros precisam acabar com essa prática de falar mal pela manhã e pedir desculpas à noite. Só gera confusão, descrédito e fomento ao ódio”, alerta.

Correio Braziliense