Dilma diz que fake news elegeram Bolsonaro

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Foto: Filipe Vidon

A ex-presidente Dilma Rousseff atrelou a vitória do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 às fake news distribuídas através de redes sociais. A declaração foi dada durante a aula magma de abertura do curso de mestrado “Estado, Governo e Políticas Públicas” na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

O evento, realizado nesta sexta-feira (6), abriu o ano letivo da instituição e teve como principal tema o “Capitalismo da Vigilância”. Dilma defendeu que essa modalidade utiliza o comportamento humano e dados pessoais como matéria-prima, favorecendo o lucro de grandes empresas como Facebook e Google.

Segundo a ex-presidente, esse processo foi construído “sem lei” e o uso de dados distorcidos é “intrínseco ao sistema, da mesma forma como (as empresas) utilizam os dados nas atividades econômicas”.

“A relação bilateral estabelecida pelo WhatsApp é decisiva para as empresas políticamente. Além de ganhar dinheiro com anúncios, usaram o mesmo processo para beneficiar o Bolsonaro. Vai pegar todos aqueles que são sensíveis à questões como segurança, moral e bons costumes, e atingi-los com micro-alvos”, declarou.

Dilma também considerou a aquisição do Instagram e do WhatsApp pelo Facebook um caso de monopólio, em que a empresa pode “controlar três bilhões de usuários”. Ela disse que a permissividade sobre discursos de ódio e preconceito nas redes não pode ser justificada como liberdade de expressão.

“Eles não aceitam esse controle, nem o Facebook, nem o Twitter. Quem tem força para controlar esse processo é o Estado, mas para essas empresas o futuro é privado. Usam dados para monitorar o comportamento de cada um de nós, principalmente as escolhas de cada um, sem nenhum consentimento claro sobre os dados obtidos”, criticou.

Quando citou a existência de políticos corruptos, Dilma foi aplaudida de pé pela plateia de mais de mil pessoas que acompanhavam o evento. Ela também atacou a desigualdade do sistema tributário e a concentração de renda “herdada e não modificada” e defendeu que isso deve ser “radicalizado” por sistemas como a inteligência artificial. “Sem regulação, Estado e democracia, teremos imensas dificuldades, com cada vez mais trabalhadores deslocados”, concluiu.

Além da ex-presidente, participaram da aula o conselheiro acadêmico da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso), Pablo Gentili, que promove o curso de mestrado em parceria com a Uerj; a pró-reitora de Extensão e Cultura da universidade, Cláudia Gonçalves; o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann; e o reitor da Uerj, Ricardo Lodi.

Lodi, além de reitor da instituição é advogado especialista em direito financeiro, e integrou a equipe de defesa de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment em 2016. No discurso de encerramento, ele enfatizou que a Uerj é um espaço para o “pluralismo de ideias” e afirmou que esse evento “não poderia ocorrer em muitas universidades do país”. O reitor ainda defendeu que não existiam irregularidades que justificassem a saída de Dilma da presidência, enquanto a plateia gritava que foi um “golpe”.

Nas redes sociais, ao ser anunciada como a principal convidada da Flacso, Dilma dividiu opiniões entre apoiadores empolgados com a participação e quem descredibilizava o seu conhecimento para ministrar a aula magna.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicou que na programação do curso estariam “gestão de estoque de vento” e “eficiência na saudação da mandioca”, em referência a discursos dados por Dilma enquanto estava na presidência.

 

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também se manifestou nas redes e publicou um vídeo de Dilma enquanto era questionada por senadores durante o julgamento do processo de impeachment.

 

Enquanto isso, a plateia no teatro era composta por apoiadores de Dilma, do ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT). Durante a aula surgiram cantos como “Dilma guerreira, da pátria brasileira” e gritos de “Lula livre” e “fora Bolsonaro”.

O ex-senador Lindbergh Farias e a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) também estavam presentes no evento. A entrada era gratuita e a distribuição de senhas foi encerrada antes mesmo do evento começar. Dezenas de apoiadores que não conseguiram entrar se aglomeraram na porta do teatro na tentativa de ver a ex-presidente.

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