Governador de extrema-direita critica Bolsonaro

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

Após participar da reunião dos governadores do Sudeste com o presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), disse ao GLOBO que o governo federal tem tentado fazer aquilo que está ao seu alcance. Ele evitou tomar partido nas divergências que têm havido entre os colegas Wilson Witzel, do Rio, e João Doria, de São Paulo, e Bolsonaro. Apesar de não criticar o pronunciamento em que o presidente pede que a população volte à normalidade, diz que, em Minas, vai continuar seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a quarentena.

O que o senhor tem achado da postura do presidente na crise?

Ele tem tentado fazer aquilo que está ao alcance do governo federal. Talvez tenha faltado mais medidas nessa área econômica mais robustas, mas é uma crise inédita. Diria que todos os governantes, vimos isso na Inglaterra há dois dias, ainda não sabem exatamente o que fazer. É uma crise que vai estar ensinando para uma próxima, até pelo ineditismo dela. Mas, vejo que o governo federal e os governadores todos estão se movendo. E falo que até alguns prefeitos, como aqui em Minas Gerais, têm excedido. Tem prefeito que interrompeu o acesso à cidade. Então, está sujeito a cidade ficar sem água porque o cloro não chega na estação de tratamento de água. O gestor público tem de ter consciência de que medidas extremas podem prejudicar sim e muito a população. Se deixar rolar normalmente como se nada estivesse acontecendo também não é o recomendável.

O que achou do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro?

Vejo que ele está tentando alertar a população sobre o coronavírus. De certa maneira, as medidas que estamos tomando em Minas Gerais seguem aquelas boas práticas e orientações da Organização Mundial da Saúde e me parece que não é exatamente naquilo que ele acredita. Mas, mesmo entre os especialistas, há divergências de opiniões. Eu não sei, talvez eu vá saber daqui a seis meses ou um ano, se aquilo que estou fazendo aqui é o melhor e o mais certo. Estamos lidando, de certa maneira, com o desconhecido. Ainda não há consenso sobre o melhor a ser feito.

Após pronunciamento: Base de apoio a Bolsonaro fica isolada nos debates sobre coronavírus nas redes sociais

Mas a indicação do senhor será acompanhar o que o presidente disse no pronunciamento ou a OMS?

Estamos pedindo a todas as pessoas que podem, que fiquem reclusas, mas estou pedindo também para que aqueles que exercem atividades no setor produtivo, que produzem alimento, que transportam mercadorias, que estão em centro de distribuição, que não parem. Caso contrário, daqui a pouco não vamos ter medicamentos, alimentos e nem cloro para colocar nas estações de tratamento. Então, vejo que não dá para radicalizar, parar 100%, e nem flexibilizar e ficar tudo normal como antes.

Então, o senhor acha que o presidente errou ao falar para as pessoas voltarem à normalidade?

Eu não recomendaria falar que a situação está normal, até porque nós sabemos que a doença pode ser fatal para diversos grupos de risco.

O que achou da reação de seus colegas governadores ao pronunciamento de Bolsonaro, principalmente do governador João Doria?

Acho tudo normal. Sempre fui um liberal, sempre respeitei as opiniões dos outros, mesmo daqueles que são contrárias às minhas. Encaro isso como altamente positivo. As pessoas estarem dispostas a se manifestar diante dos outros expondo seu ponto de vista. Só não concordo muito quando você começa a desmerecer aquele que tem opinião diferente da sua.

Mas o senhor está mais perto da posição do presidente ou dos governadores?

Gosto muito do presidente e me relaciono muito bem com os governadores. Estou do lado de todos. Acho que todos estamos querendo fazer o melhor, que é combater o coronavírus.

Qual foi sua impressão sobre a reunião de hoje?

Foi uma reunião boa, gostei muito. Está claro que o governo federal está adotando medidas para poder amenizar a crise de forma que ela não se acentue tanto. Deixei claro que a grande questão é o fato de as pessoas não estarem trabalhando. Muitos perderão seus empregos porque as empresas não vão conseguir arcar com a folha de pagamento durante esses próximos meses e isso vai ser uma perda de empregos, de renda e também de arrecadação. O governo federal terá de, necessariamente, estudar uma alternativa, como já foi feito em vários outros países, no sentido de ter um caminho intermediário, em que empresa arque com uma parte da remuneração, o governo com uma parte e o empregado abra mão de uma parte. Caso contrário, as empresas não vão conseguir arcar, e vamos talvez não ter uma recessão econômica, mas uma depressão.

O senhor tem visto um distanciamento entre governadores e o presidente nessa questão da pandemia?
Não. Diria que está havendo essa divergência de opiniões que muitas pessoas que interpretam como distanciamento. Quem é casado ou tem namorado sabe que essas divergências de opiniões geram um distanciamento, que, na minha opinião é normal em um regime democrático. Logo, logo, as pessoas se recompõem, as pessoas veem que o outro também está bem intencionado, quer fazer o melhor, mas que a opinião é diferente. Não há motivo para rompimento, o que está tendo são diferentes pontos de vista.

Mas, na opinião do senhor, não tem um lado certo?

Não. Respeito todos. Aqui, no meu estado, faço o que vejo que é melhor para o povo mineiro. Cada estado tem suas particularidades. Falo que Rio e São Paulo estão em um estágio mais avançado porque tem grandes metrópoles. Belo Horizonte nem se compara a Rio e São Paulo. O que se faz numa metrópole de 10, 20 milhões de habitantes não é o que se faz aqui em Belo Horizonte, que tem 3 milhões. São situações distintas e muita gente quer uniformizar as ações em todo o Brasil. Temos muitas realidades distintas.

Hoje, depois do pronunciamento do presidente, está o burburinho sobre uma possível saída do ministro da Saúde. O que acha?

Não estou sabendo, estive ocupado o tempo todo. Vejo que ministro tem conduzido muito bem (a crise), até pesquisas dizem que ele é hoje o ministro mais popular e possivelmente o mais admirado por conta disso. Seria uma perda já que está à frente dessa guerra contra o coronavírus. Seria ruim para o Brasil nesse momento se isso acontecesse.

O senhor pode endurecer as medidas? Como seria?

Por ora, temos as medidas que adotamos e são suficientes. A pandemia aqui em Minas tem crescido com índices considerados normais. Caso essa inclinação da curva se acentue mais, o que espero que não aconteça, talvez vamos precisar tomar algumas medidas adicionais, mas acho muito pouco provável que isso venha a acontecer.

Quais seriam essas medidas adicionais?

Vai depender dessa inclinação da curva (de casos confirmados). Por ora, acho que estamos bem confortáveis. Mas, seria restringir mais ainda essa questão das pessoas estarem juntas umas das outras. Apesar de que, no meu ponto de vista, já tomamos as medidas que eram necessárias. Proibimos aglomerações, cultos, eventos culturais, shows, jogos de futebol, viagens interestaduais, os ônibus interurbanos estão andando com metade da capacidade. Se chegarmos em um ponto incontrolável, talvez vamos ter de proibir qualquer trânsito entre as cidades, mas acho isso improvável.

O senhor é a favor do adiamento de eleições por conta do coronavírus?

Vimos ontem que as Olimpíadas serão adiadas. Por que não adiamos as eleições também? (…) Temos o fundo eleitoral que poderia ser revertido para a Saúde em um momento de tanta necessidade.

Essas propostas de diminuir salários de políticos e servidores ajudariam a conter a crise?

Sim. Durante a crise de 2015 e 2016, eu trabalhava no setor privado, que demitiu milhões de pessoas, reduziu a remuneração que pagava. No setor público, aconteceu o contrário. Estava se contratando e aumentando salário, enquanto a população estava ficando desempregada e ganhando menos. Acho que agora talvez seria o momento do setor público contribuir com aquilo que não contribuiu na crise de 2015/2016. O setor público no Brasil se transformou, de certa maneira, em um lugar para as pessoas enriquecerem ou terem uma vida de privilégios. Deveria ficar no setor público quem tem um espírito para servir, como o nome indica: servidor público. Isso valeria para os altos cargos do setor público, não para a faxineira que trabalha em determinado lugar. No salário dela, não mexeria em nada. Mas no salário daqueles que ganham acima do teto e inventaram uma série de artifícios para ir além acho que seria um momento adequado de fazer alguma mudança.

O Globo