Governos europeus irão bancar salários de trabalhadores
Foto: Sergio Perez/Reuters
Enquanto o debate sobre o destino dos trabalhadores brasileiros revela um governo sem rumo, governos europeus tentam evitar a repetição da crise de 2008 e abrem seus cofres para bancar os salários de milhões de pessoas.
A previsão da Organização Internacional do Trabalho é de que, em 2020, o desemprego no mundo dará um salto de 25 milhões de pessoas diante da paralisia gerada pela pandemia. Para evitar que tal cenário se transforme em uma crise humanitária e o aprofundamento da pobreza, governos europeus têm mergulhado em novos planos de resgate.
Na UE, todos estão cientes de que isso vai gerar um desequilíbrio nas contas dos estados, a regra de ouro para a existência do euro. Mas os limites foram abolidos, justamente para impedir que a sociedade não seja asfixiada.
A estratégia mais completa foi adotada pela Suécia. O governo indicou que poderá subsidiar os trabalhadores para que possam receber 90% de seus salários, mesmo que trabalhem horas reduzidas ou em casa. Para aliviar os empregadores, todos os impostos foram adiados para 2021. Para arcar com o plano, o governo vai destinar 6% do PIB do país, cerca de 27 bilhões de euros.
A Alemanha indicou que deve repetir a estratégia que adotou em 2008 quando, para evitar um salto no desemprego, fechou um acordo com milhares de empresas para arcar com uma parcela do salário dos trabalhadores. No total, 1,5 milhão de alemães foram beneficiados.
Na vizinha Dinamarca, o governo vai subsidiar 75% dos salários dos trabalhadores, com a condição de que a empresa não promova demissões. Na Suíça, uma espécie de seguro-desemprego foi ampliado, com um valor mensal de US$ 2,5 mil para garantir que famílias não passem necessidade.
Na França, o governo fez uma proposta ousada: não deixar nenhuma empresa falir. Para isso, vai despejar 45 bilhões de euros. Paris ainda repete o sistema de pagamento de salários e ainda arcará com licenças por doença, mesmo que as pessoas não estejam doente. Diante do fechamento das escolas, milhares de pais são obrigados a cuidar de seus filhos, abandonando o trabalho.
A opção na Espanha foi a de decretar moratórias sobre o pagamento de hipotecas e contas de serviços públicos para as pessoas cujos salários foram cortados.
Na OIT, o alerta é ainda que certos grupos serão desproporcionalmente afetados pela crise do emprego, o que poderia aumentar a desigualdade. Estes grupos incluem pessoas em empregos menos protegidos e mal remunerados, especialmente jovens e trabalhadores mais velhos. As mulheres e os migrantes também. “Estes últimos são vulneráveis devido à falta de proteção social e de direitos”, apontou a entidade.
“Em tempos de crise como o atual, temos duas ferramentas que podem ajudar a mitigar os danos e restaurar a confiança do público. Em primeiro lugar, o diálogo social, o envolvimento com trabalhadores e empregadores e seus representantes, é vital para construir a confiança pública e o apoio às medidas que precisamos para superar esta crise”, defendeu Guy Ryder, diretor-geral da entidade.
“Em segundo lugar, as normas internacionais do trabalho fornecem uma base comprovada e confiável para respostas políticas que se concentram em uma recuperação que seja sustentável e equitativa. Tudo precisa ser feito para minimizar os danos às pessoas neste momento difícil”, concluiu Ryder.