Itália tem dificuldade em atender todos infectados
Foto: Claudio Furlan
Dentro do cemitério de Bergamo, dezenas de caixões enchem a igreja de Ognissanti, um necrotério de emergência está armazenando os cadáveres dos mortos da comunidade depois que os dois hospitais da região não aguentavam mais.
Com os funerais proibidos sob o decreto de bloqueio da Itália, o crematório da cidade deve começar a operar com uma nova programação de 24 horas neste fim de semana para acompanhar. As autoridades tiveram que fechar o cemitério para impedir que os idosos viessem de ônibus, dando os últimos respeitos a amigos, vizinhos e parentes que morrem a um ritmo alarmante na cidade que agora é o coração dolorido da batalha contra o surto de coronavírus que já matou mais de 1.200 vidas na Itália, principalmente na Lombardia.
“Ver toda uma geração de residentes de Bérgamo ser tomada dessa maneira – é impensável”, disse um médico que trabalha no Hospital Papa João XXIII, onde quase 150 pessoas morreram nos últimos dias. Até mesmo alguns médicos e enfermeiros do hospital estão entre os infectados usando capacetes de oxigênio e conectados a tubos de respiração nas enfermarias lotadas da UTI.
“Todos os dias temos mais pacientes entrando e mais pacientes já no hospital que estão piorando e, ultimamente, a idade média diminuiu drasticamente, e vemos jovens saudáveis de 30, 40 e 50 anos que estão chegando com sérios problemas. pneumonia ”, disse o anestesista Ivano Riva ao programa de televisão italiano Piazzapulita.
Bergamo é agora a província mais infectada da Itália e 71 dos médicos, enfermeiros e profissionais de saúde da região testaram positivo para o vírus, criando uma escassez aguda de equipe médica, ao mesmo tempo em que há uma demanda sem precedentes por terapia intensiva.
Foi aqui que um anestesista exasperado revelou esta semana que a falta de aparelhos respiratórios e leitos de UTIs estavam forçando os médicos a tomar decisões devastadoras sobre quem salvar e quem deixar morrer, com base na idade e nas condições de saúde.
“Decidimos dependendo da idade e do estado de saúde. Não sou eu quem disse isso, mas os manuais de procedimentos médicos ”, disse Christian Salaroli, 48 anos, ao jornal Corriere della Sera.
“Temos muito cuidado em avaliar pacientes com patologias cardio-respiratórias graves e pessoas com sérios problemas coronários, porque eles toleram hipóxia pouco aguda e têm menor probabilidade de sobreviver à fase crítica.
“Se um paciente de 80 a 95 anos tiver sérios problemas respiratórios e uma falha de mais de três órgãos vitais, isso significa que eles têm uma taxa de mortalidade de 100%. Não somos capazes de realizar milagres. ”
Salaroli disse que se manifestou para conscientizar sobre a realidade da situação nos hospitais tensos da Lombardia e o impacto emocional devastador sobre seus colegas – enfermeiras experientes que choram e médicos com nervos de aço agora tremendo. O governo se esforçou para responder, estabelecendo um acordo urgente com a China para enviar 30 toneladas de equipamentos de emergência, incluindo aparelhos respiratórios, capacetes de oxigênio e máscaras, que chegaram a Roma na sexta-feira de Xangai, junto com nove especialistas médicos chineses do Covid-19. Em Milão, estão em andamento planos para transformar – em uma semana – um pavilhão de feiras não utilizado em um hospital de campo dedicado Covid19 com 600 leitos de UTI.
A Itália tem mais de 15.000 casos positivos e o número de mortos aumentou para mais de 1000, uma taxa de mortalidade significativamente maior devido à grande população idosa da Itália, que é a segunda população mais antiga do mundo, atrás do Japão. Estima-se que 23% da população da Itália tem mais de 65 anos e a idade média das vítimas de coronavírus da Itália tem 82 anos. As autoridades de saúde italianas disseram que 75% dos mortos são homens.
A pequena cidade de Medicina, nos arredores de Bolonha, está de luto pela morte de três homens que eram todos amigos que frequentavam o mesmo centro de recreação social. Francesco Nanni, 77, era o vice-presidente do clube, Oddone Tolomelli, era o cozinheiro do centro, conhecido pelo excelente molho de ragu que ele fazia para os jantares, enquanto Luigi Balduini era o faz-tudo do clube e um jogador de cartas apaixonado com um assento fixo na esquina mesa. Todos os três morreram de complicações por coronavírus e mais de uma dúzia de outros adoeceram. Na cidade toscana de Prato, pelo menos oito idosos foram infectados em um lar sênior.
Desde que as medidas de bloqueio mais rigorosas foram aprovadas, 9.000 centros de idosos em todo o país foram fechados, deixando milhares de idosos isolados em suas casas, disse Eleonora Selvi, porta-voz da associação Senior Italia Federanziani para idosos. Alguns foram abandonados por cuidadores que não querem mais usar o transporte público para atender a eles. Outros foram abordados por fraudadores sem vergonha.
“Estamos iniciando uma campanha nacional para combater a desinformação e a fraude, porque infelizmente