Premiê inglês negou gravidade da crise inicialmente e se arrependeu

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Foto: Reprodução

No Reino Unido, pronunciamento em cadeia nacional é coisa séria. Os chefes de governo guardam o recurso para casos extremos, como guerras e catástrofes. Até esta semana, o último primeiro-ministro a interromper a programação da TV havia sido Tony Blair, em 2003. A notícia era o envio de tropas ao Iraque.

Dezessete anos depois, Boris Johnson gravou uma mensagem sobre a Covid-19. Em tom grave, anunciou medidas radicais para tentar conter o avanço da epidemia na ilha. “O coronavírus é a maior ameaça que este país enfrenta em décadas”, afirmou. O discurso foi assistido por 28 milhões de britânicos. Uma audiência histórica, comparável à do funeral da princesa Diana.

O premiê determinou que a população fique em casa e decretou o fechamento do comércio, à exceção de farmácias e supermercados. Quem descumprir as regras da quarentena poderá ser enquadrado pela polícia.

O pronunciamento marcou uma guinada no comportamento de Boris. Há poucas semanas, ele ainda se recusava a admitir a gravidade da epidemia. Não chegou a chamar o coronavírus de “gripezinha”, mas incentivou o povo a tocar a vida como se nada estivesse acontecendo.

O governo britânico apostava na teoria da “mitigação”. A ideia era deixar o vírus circular até que a maior parte da população ficasse imunizada naturalmente. O premiê abandonou a tese ao receber um estudo do Imperial College de Londres. Os cientistas avisaram que sua estratégia poderia levar à morte de 250 mil pessoas.

Boris recuou, mas sua teimosia ainda pode custar caro. Ontem o Reino Unido registrou 87 mortes pelo coronavírus, o maior número desde o início da pandemia. O total de vítimas no país já chega a 422, e tende a aumentar antes que as novas medidas comecem a fazer efeito.

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No Brasil, Jair Bolsonaro banaliza e vulgariza a palavra presidencial. No terceiro pronunciamento em 19 dias, ele reclamou do fechamento de escolas, atacou os governadores e voltou a vociferar contra a imprensa. Como dizia Millôr Fernandes: a loucura tem razões que a sensatez desconhece.

O Globo