Trump planeja encerrar quarentena nos EUA até a Páscoa
Foto: Mandel Negan/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira que pretende que os Estados Unidos tenham encerrado as medidas de confinamento até a Páscoa, daqui a menos de três semanas, um objetivo que os principais profissionais de saúde consideram muito arriscado.
Trump disse que “adoraria abrir o país e apenas quer manter [a quarentena] até a Páscoa”.
— Eu acho que é possível, por que não? — ele disse, dando de ombros.
A Organização Mundial de Saúde disse nesta terça-feira que os EUA podem se tornar o epicentro da pandemia de coronavírus. O vírus respiratório altamente contagioso já infectou mais de 42 mil pessoas e provocou mais de 500 mortes no território americano, fazendo com que mais estados ordenassem que sua população fique em casa. Nova York é o estado mais afetado do país e representa metade dos diagnósticos reportados nos EUA, com mais de 25 mil casos — o equivalente a 7% do total mundial.
Participando de um encontro promovido pela Fox News, Trump e o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, disseram na terça-feira que nunca pretenderam “fechar o país” para conter a disseminação do coronavírus, e que suas diretrizes sobre suspensão de atividades de empresas e distanciamento social em breve chegariam ao fim.
— Eu dei duas semanas — disse Trump. — Podemos nos distanciar socialmente e ir trabalhar.
Pence disse aos telespectadores que o bloqueio decorreu de desinformação que circulou online.
— Posso dizer que em nenhum momento a Força-Tarefa de Coronavírus da Casa Branca discutiu um bloqueio nacional — disse ele, respondendo a uma pergunta de um espectador por telefone.
Trump recorreu à comparação do coronavírus com a gripe, dizendo que, apesar de milhares de mortes acontecerem com a gripe, “não se desliga o país”.
Ele também disse que um grande número de pessoas morrem de acidentes de automóvel, mas que ninguém obriga as montadoras a parar de fabricar veículos.
Estados como Califórnia, Maryland, Illinois e Washington declararam ordens de permanecer em casa ou de suspensão de suas atividades, mas outros estados têm procurado diretrizes como as do governo Trump. Isto acontece no mesmo momento em que países da Ásia começam a ver um ressurgimento do coronavírus, depois de diminuir as restrições.
Pence disse que o cronograma do governo para tentar reiniciar as empresas e que os trabalhadores saem de suas casas foi menor do que o período que especialistas em saúde disseram que seria necessário para achatar a curva da propagação da doença.
— Vamos nos concentrar nos mais vulneráveis, mas colocar os EUA de volta ao trabalho também será uma prioridade, em semanas e não meses — disse Pence.
Ele também disse que dois medicamentos contra a malária, cloroquina e hidroxicloroquina, foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), órgão que controla quais substâncias devem ter uso restrito nos EUA, para uso fora do rótulo no tratamento de pacientes com Covid-19, a doença causada pelo coronavírus. O FDA não confirmou imediatamente essa afirmação, mas dois funcionários do órgão disseram que não era verdade.
Tendo o microfone por quase duas horas, Trump usou da tribuna da Fox News para fazer política. Ele atacou o governador de Nova York, Andrew Cuomo, que realiza diariamente seus próprios comunicados, que ganharam atenção nacional nos EUA. Cuomo, que está buscando ajuda federal, às vezes elogia Trump por sua liderança durante a crise.
Mas Trump disse que não apreciava as críticas que viu na televisão de alguém que vê como rival.
— Eu o assisto neste programa reclamando — disse Trump. — Ele tinha 16 mil ventiladores que poderia ter obtido por um ótimo preço e não os comprou.