1/4 dos mortos por coronavírus não são do grupo de risco

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O avanço do coronavírus nas favelas brasileiras pode ser o fator responsável pela mudança de perfil das vítimas da doença no país. Segundo um levantamento do jornal O Globo com base em dados do Ministério da Saúde, 25% dos mortos têm menos de 60 anos e nenhuma comorbidade – como diabetes, hipertensão e problemas respiratórios.

O número teria disparado nos últimos quinze dias. A relação entre renda e mortalidade seria justificada pela falta de recursos básicos, como água e saneamento, nas residências periféricas.

O levantamento aponta que o país segue um padrão diferente do observado nos Estados Unidos e na Espanha, por exemplo, esse último com uma taxa de 4,6% de mortes entre pessoas fora do chamado grupo de risco.

Desde o início da pandemia, seis dos 170 mortos no estado do Rio de Janeiro moravam em comunidades. Uma pesquisa do Data Favela mostrou que a Covid-19 já alterou a vida de 97% das 13,6 milhões de moradores de favelas no Brasil.

“O número de casos aumenta quando a doença passa a ter uma fase comunitária e sua disseminação não é mais restrita aos que se contaminaram no exterior. As favelas, por reunirem muitas pessoas em casas com poucos cômodos e mal ventiladas, se tornam um possível foco de contaminação.

Outro fator que pode impactar é a questão nutricional, uma vez que pessoas bem alimentadas conseguem manter o sistema imunológico funcionando normalmente”, afirma Laura de Freitas, microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo.

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Como forma de reduzir o impacto da doença nessas regiões menos abastadas, a Central Única das Favelas e outros organizações não-governamentais se uniram para distribuir sabonetes, álcool em gel, produtos de limpeza e alimentos para as famílias terem condições de se protegerem.

Outro problema a ser enfrentado é a disseminação de notícias falsas, que cria dúvidas na população.

Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, orienta o isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro se refere à pandemia como “gripezinha” e cumprimenta apoiadores, contrariando a sugestão da pasta de não incentivar aglomerações.

“A maioria das pessoas não entende a situação complexa que vivemos, por isso é necessário unificar o discurso para que elas saibam o que fazer e não terem dúvidas de quem ouvir”, diz Dimas Tadeu Covas, presidente do Instituto Butantan e coordenador da plataforma de laboratórios de diagnóstico de coronavírus de São Paulo.