Clínicas de diálise podem parar por falta de recursos
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) informou que as clínicas de diálise, que atendem pacientes renais crônicos, podem parar caso o Ministério da Saúde (MS) não libere mais recursos neste momento de combate ao novo coronavírus.
A ABCDT, em parceria com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) enviou uma carta ao governo federal solicitando um repasse de R$ 300 milhões a mais para custear o aumento dos preços dos insumos, e os gastos a mais para tratar pacientes com suspeita de coronavírus nas 776 clínicas que prestam o serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país. Segundo a associação, a média de custo de um paciente é de R$ 2.250, sem reajustes no repasse do MS desde 2018. Ainda assim, cerca de 90% dos pacientes renais que necessitam de hemodiálise são atendidos em clínicas privadas.
Em nota técnica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu uma série de determinações que encarecem o serviço seguro de hemodiálise em meio à pandemia. Dentre elas, para pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19, a necessidade de sala exclusiva e a necessidade de descarte da linhas de diálise e dialisadores e que os profissionais para atendimento desses pacientes sejam exclusivos.
Em 1° de março, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) também atualizou as recomendações às unidades de diálise devido à pandemia. Ainda ressaltou que vem empregando esforços em busca de uma terapia renal substitutiva no Brasil neste momento de crise.
O presidente da associação, Yussif Ali Mere Junior afirma ainda que houve um aumento no preço dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Yussif pontua que um paciente renal crônico não pode ficar em casa, em isolamento social, porque precisa ir às clínicas três vezes por semana. Assim, ele está mais exposto. “Quando ele (o paciente) pega uma virose respiratória como essa, é um problema muito grande”, disse.
O médico pontua, então, que é importante que a clínica esteja preparada para impedir que um paciente doente dissemine o vírus, usando EPIs adequados e separando dos outros pacientes. “Esse cuidado tem que ser muito rigoroso nesse momento”, afirmou. Yussif informou que ainda não obteve resposta do MS quanto ao pleito da associação. A reportagem entrou em contato com a pasta por e-mail, mas não obteve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.
O eletricista Marcos Damasceno, 53 anos, realiza diálise três vezes por semana há 12 anos. Ele utiliza transporte público para se dirigir à clínica localizada a 20 quilômetros de distância de sua casa. “Toda essa polêmica me deixa muito receoso e nervoso, pois vivi uma situação parecida quando a clínica em que eu frequentava, no Gama, foi à falência e fiquei sem amparo. Se acontecer o mesmo com a clínica de Santa Maria, não tenho para onde correr”, relatou. Marcos ainda afirma que na clínica não há equipamentos de proteção para os pacientes e que não há estrutura para atender contaminados pelo novo coronavírus.
A ABCDT informou que são 133 mil pacientes encaminhados do SUS para clínicas privadas e a previsão é de que 20% desses cheguem a ser contaminados pelo novo coronavírus. O cálculo é baseado no alto risco que os doentes reais possuem. “Geralmente eles já sofrem de outras morbidades”, informou a associação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde enfatizam que as pessoas que têm alguma das Doenças Renais Crônicas (DRC) estão entre os mais suscetíveis à Covid-19.