Doria denuncia ameaças contra sua família

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Foto: Flickr

O governador João Doria (PSDB) enviou um recado claro ao presidente e à militância digital do presidente Jair Bolsonaro fazendo menção expressa ao chamado ‘gabinete do ódio’, durante entrevista coletiva concedida ontem para anunciar a prorrogação da quarentena em São Paulo até o dia 22 de abril. A medida tem o propósito de conter a explosão de casos de coronavírus no Estado.

“No Brasil, defendem isolamento o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Justiça, Sergio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente Hamilton Mourão, o centro de Estudos do Exército e a maioria absoluta de médicos e cientistas. Será que todos eles estão errados? Será que a ciência mundial está errada? Será que um único presidente da República no mundo é o certo? É quem detém o poder, a ciência, o conhecimento para discordar do mundo?”, indagou Doria.

O distanciamento social converteu-se em tema de disputa política com o presidente Bolsonaro. O governador, principal expoente do isolamento e mais forte contraponto político ao Planalto, também se referiu, indiretamente, ao processo de fritura do ministro Mandetta pelo presidente.

“Saber ouvir é tão importante quanto saber falar, mas é preciso ter humildade para saber ouvir, sobretudo em tempos em que alguns gostam de impor suas vontades e ameaçam aqueles que têm posição contrária”, disse Doria. Bolsonaro tem vivido embates frequentes com Mandetta por discordar do entendimento sanitário seguido pelo ministro, afinado com os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e acompanhado pelo governador de São Paulo e também por outros Estados. O presidente se incomoda ainda com o protagonismo de Mandetta na condução da crise da pandemia e com a elevação da popularidade do ministro e de governadores, conforme apontaram pesquisas de opinião divulgadas na sexta-feira.

Doria revelou ter colocado os filhos e esposa em esquema especial de segurança depois de receber ameaças em um de seus celulares, inclusive por meio de mensagens de áudio, afirmou, e associou os autores das intimidações ao gabinete do ódio – nome dado por integrantes do governo federal a um grupo de três servidores ligados ao vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSC), que produzem relatórios diários com interpretações sobre fatos nacionais e internacionais e respondem pelas redes sociais do presidente.

“É um tema triste em meio a tantas circunstâncias onde nós precisamos salvar vidas, eu ter que defender a vida dos meus filhos de ameaça de pessoas que querem seguir a orientação do gabinete de ódio, ou de pessoas que odeiam”, afirmou o governador paulista.

Doria disse sentir “tristeza” por estar vivendo “em um país onde deveríamos estar sendo liderados por uma causa de salvar vidas e isto não acontece, ao contrário, manifestações de ódio são estimuladas pelas redes sociais, manifestações inadequadas, inoportunas e irresponsáveis são colocadas, ainda que pontualmente, por pessoas que querem o desrespeito às medidas que estamos tomando para defender a vida”.

Valor Econômico