Eleições de 2020 dividem bancada da Bíblia

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Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

A eleição municipal no Rio de Janeiro terá os evangélicos em lados opostos. Pastor da Assembleia de Deus Ministério Madureira, o deputado federal Otoni de Paula acaba de se filiar ao PRTB, partido do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, para concorrer à prefeitura da capital. O parlamentar será adversário do atual prefeito Marcelo Crivella, do Republicanos (ex-PRB), representante da Igreja Universal do Reino de Deus na corrida pela reeleição. Os dois já travam uma guerra pelos eleitores do presidente Jair Bolsonaro.

Otoni de Paula estava no PSC, do governador do Rio, Wilson Witzel, hoje inimigo número um de Bolsonaro. O proprietário da legenda é o pastor Everaldo Pereira, também da Assembleia de Deus. Pela Lei Eleitoral, como deputado, Otoni não poderia deixar a sigla (exceto em caso de expulsão, o que não ocorreu). Ele, que corre o risco de perder o mandato, entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a saída.

Os candidatos (incluindo prefeitos e vereadores) que pretendem disputar as eleições deste ano precisam estar regularmente filiados e com domicílio eleitoral no local onde vão concorrer até o próximo sábado, dia 4. No entanto, a janela partidária, ou seja, período para trocar de legenda, só vale para vereadores, que são eleitos pelo voto proporcional.

“Esta ação será julgada pelo TSE. Caso eu perca, o PSC pode pedir o mandato de volta. Mas eu não nasci com mandato. Eu tenho medo é de o presidente perder a eleição na cidade dele (Rio de Janeiro) para um candidato da esquerda. É o meu único receio. Seria uma perda emblemática”, disse Otoni de Paula em entrevista a VEJA.

Nos bastidores, Crivella pediu a Otoni de Paula que desistisse. Mas não houve acordo. O deputado assinou a filiação no PRTB após conversar com o presidente nacional da legenda, Levy Fidélix, com aval de Jair Bolsonaro, segundo o parlamentar. Otoni afirmou que, ao apresentar a pré-candidatura, Bolsonaro “não fez objeção” e “palavreou não interferir no primeiro turno”. Para o pastor, agora, caberá aos eleitores escolherem qual será o candidato que representará a “direita bolsonarista” no Rio. Ele ressaltou ainda que os simpatizantes do presidente levarão em conta o passado político de Crivella na hora de votar.

“O Crivella era um aliado do PT e foi ministro da Dilma. Ele teve todas as benesses do PT. Não dá para esconder isso do eleitor”, ressaltou.

Fato é que dois filhos de Bolsonaro se filiaram ao Republicados de Crivella e do tio dele, o bispo Edir Macedo. O vereador Carlos Bolsonaro, inclusive, cuidará da campanha do prefeito, como revelou VEJA na última quarta-feira. Além de Carlos, o senador Flávio Bolsonaro também desembarcou no partido. Apesar de até o momento não demonstrar apoio explícito a Crivella, o presidente tem sinalizado uma aproximação. Para Otoni, o motivo é um só:

“O Bolsonaro não pode se afastar do Crivella por causa da TV Record (o dono do grupo de comunicação é Edir Macedo). O presidente precisa de uma TV que lhe apoie. Faz parte do processo contra a Globo. Por trás do Crivella, tem a Record. E isso tem um peso muito grande para o presidente. Não me sinto escanteado”.

Em 2018, Bolsonaro teve o apoio em massa de líderes evangélicos. O presidente chegou a publicar um decreto para que igrejas pudessem ficar abertas durante a pandemia do coronavírus. A Justiça, no entanto, proibiu.

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