Esquerda domina Twitter e direita bate cabeça

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Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

O debate sobre a saída do ministro Sergio Moro do governo do presidente Jair Bolsonaro foi dominado pela base de oposição ao governo no Twitter e dividiu o campo da direita que forma a base de apoio ao presidente na rede social. Levantamento da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV) aponta que o grupo de oposição, com tom de repúdio à saída do ministro, concentrou 70% dos perfis engajados na discussão.

Já um levantamento amostral da consultoria Arquimedes realizado após o pronunciamento de Moro, antes da fala de Bolsonaro na tarde desta sexta-feira, mostra que de todas as menções ao presidente no Twitter 82% foram negativas e 18% positivas. Já em relação ao ex-ministro da Justiça 88% das citações foram positivas e apenas 12% negativas.

A DAPP/FGV identificou mais de 1,24 milhão de menções no Twitter a Moro entre 0h e 13h desta sexta. O debate começou a crescer drasticamente a partir das 11h, com o início da coletiva, alcançado pico de menções em menos de uma hora, com 68,4 mil postagens. Nesse período, entre 11h e 13h30, o campo da oposição ao governo Bolsonaro representou quase 70% dos perfis que abordaram o tema, número superior à mobilização pela permanência do ex-ministro da Sáude Luiz Henrique Mandetta, que chegou a concentrar 60% dos perfis no início de abril, quando houve ameaça de sua demissão, concretizada no último dia 16. Já a base de apoio a Bolsonaro, que somou 16% dos perfis, ficou dividida.

Ainda de acordo com a DAPP/FGV, as principais hashtags revelam divergências com o presidente Jair Bolsonaro. Nos dois primeiros lugares do debate, aparecem as hashtags em defesa de Moro #bolsonarotraidor e #forabolsonaro, em aproximadamente 44,8 mil e 27,4 mil postagens. Já a hashtag mais usada foi por apoiadores de Bolsonaro foi #tchauquerido, em 23,7 mil postagens, no terceiro lugar do debate.

Ao acusar o presidente de interferência política na Polícia Federal, Moro causou um desembarque da ala ligada à Operação Lava-Jato do bolsonarismo. Nos minutos seguintes às declarações do ministro, as hashtags #bolsonarotraidor, #TchauQuerido, #ForaBolsonaro, Bozo, #BolsonaroEnlouqueceu e GRANDE DIA chegaram ao topo dos assuntos mais comentados no Twitter. Duas horas após a coletiva, apoiadores de Bolsonaro ainda não tinham conseguido emplacar hashtags defendendo o presidente. O Twitter é considerado palco no qual bolsonaristas travam suas disputas e é usado pelos próprios aliados de Jair Bolsonaro para medir a popularidade das decisões do presidente.

Figuras leais a Bolsonaro, como o pastor Silas Malafaia, o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), surpreenderam ao manifestar apoio a Moro. “Inacreditável! Sou aliado do presidente, não alienado! Sei que é atribuição do presidente nomear diretor da PF, só que ele deu a Moro carta branca. Inadmissível”, tuitou Malafaia.

Luciano compartilhou uma imagem de Sergio Moro, chamando-o de herói nacional, e escreveu: “Obrigado por tudo que você fez pelo nosso país. Gerações e gerações lembrarão do seu legado. O povo brasileiro estará sempre ao seu lado”. Carla Zambelli foi mais discreta. Conhecida por ser uma das mais fiéis escudeiras de Bolsonaro, ela decidiu ficar do lado de Moro, seu padrinho de casamento. Agradeceu pelo seu trabalho à frente do ministério e o elogiou.

Também completam a lista dos “bolsonaristas arrependidos” o agrônomo Xico Graziano, o músico Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, o apresentador Danilo Gentili e o comentarista Rodrigo Constantino. “Surfou na onda da Lava-Jato. Surfou na onda do Sergio Moro. Surfou na onda do combate à corrupção. Surfou na onda anti-PT. Surfou na onda da liberdade de expressão. Surfou na onda do politicamente incorreto. Surfou na onda do Guedes. Mentira acima de tudo, traição acima de todos”, tuitou Gentili.

Constantino afirmou que “quem tem Sergio Moro e escolhe Olavo de Carvalho merece sofrer impeachment mesmo”. O Movimento Avança Brasil, organizador de manifestações a favor do governo, compartilhou publicação agradecendo a Moro. O youtuber Leandro Ruschel escreveu que a coletiva foi uma “bomba nuclear sobre o governo”. A Caneta Desesquerdizadora, página de paródia contra a esquerda, publicou que “Bolsonaro traiu seus eleitores”.

Alguns apoiadores de Bolsonaro preferiram pregar calma e esperar pela versão de Jair Bolsonaro sobre as declarações do ministro. Diretor do site do escrito Olavo de Carvalho, Bernardo Küster disse que “é necessário que Bolsonaro venha a público ainda hoje falar sobre as acusações que Sergio Moro fez” e acrescentou que “ou é isso, ou é ladeira abaixo sem freio nem curva”. O Movimento Brasil Conservador também defendeu primeiro ouvir o presidente.

O Globo