Jean Wyllys diz que BBB saiu da Casa por ser bolsonarista

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Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Ex-deputado federal e vencedor da 5ª edição do BBB em 2005, Jean Wyllys afirma ao Painel que o reality show da TV Globo tem expressado as tensões políticas que marcam o país. A última edição do paredão do BBB, que teve no centro o antagonismo entre Manu Gavassi e Felipe Prior, recebeu mais de 1,5 bilhão de votos.

Membro de grupo que foi criticado por atitudes preconceituosas no decorrer do programa, Prior virou alvo de defensores de pautas feministas, que se mobilizaram para que ele fosse eliminado. Ele recebeu o apoio de artistas e jogadores de futebol famosos, como Neymar. Na noite anterior à votação, terça-feira (31), foi exaltado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Do outro lado, Gavassi foi apoiada pelas feministas e por grupos de artistas, ainda que algumas de suas atitudes no programa tenham sido apontadas como preconceituosas também. Quando sua vitória foi anunciada, pessoas saíram às janelas para celebrar e, no embalo dos panelaços das últimas semanas, xingar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nem Prior nem Gavassi falaram sobre preferências eleitorais no programa.

“Embora ainda seja alvo por parte de intelectuais, pseudo-intelectuais e artistas, o BBB —e é importante frisar o último, pois, só no Brasil este reality show adquiriu essa característica— se tornou um termômetro ou reflexo de questões políticas que afligem a sociedade brasileira a cada edição. Este aspecto se acentuou a partir da de 2005, quando a minha presença e vitória colocaram o tema da homossexualidade e da homofobia mais claramente na sala de estar das famílias”, afirma Wyllys, que também é jornalista e escritor.

“A partir daí, mais ou menos, todas as edições posteriores mobilizaram politicamente o país, com destaque para as que deram a vitória ao Marcelo Dourado (2010) e à Gleici Damasceno (2018)”, completa.

Wyllys diz que não tem acompanhado de perto a atual edição do programa, mas segue o debate que ela tem gerado nas redes sociais.

“Reflete a luta contra o fascismo que ascendeu com a vitória de Bolsonaro e o vigor das lutas identitárias, ainda que alguns partidos e lideranças políticas de esquerda se recusem a entender isto (a direita e a extrema-direita entenderam faz tempo e por isso se opõem a essa agenda)”, afirma o ex-deputado e pesquisador-visitante na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

“A votação recorde de ontem (terça-feira, 31) não é resultado só da quarentena em relação ao novo coronavírus: é reflexo do despertar de uma maioria do transe em que o fascismo o colocou e de sua disposição de lutar contra este, sua misoginia, machismo, homofobia e racismo. A vitória de Manu refletiu os novos ânimos da maioria dos brasileiros em relação àqueles ligados à família de incompetentes, corruptos, violentos e perversos que governa o Brasil desde 2018 com o apoio de empresários inescrupulosos”, conclui.

Em janeiro de 2019, eleito pela terceira vez consecutiva deputado federal pelo PSOL, Wyllys abriu mão do novo mandato e decidiu deixar o país. Entre os motivos, citou as ameaças que recebia; o assassinato da sua correligionária Marielle Franco; e a relação próxima do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) com o ex-PM e miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020.

Na Câmara, Wyllys foi um dos principais adversários de Jair Bolsonaro, a ponto de ter cuspido no rosto do então deputado durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Folha