Parte da clientela de Bolsonaro já apoia Mandetta
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Embora o presidente mantenha um discurso oposto às recomendações feitas pelas autoridades sanitárias no enfrentamento ao coronavírus, a aprovação do desempenho do Ministério da Saúde durante a crise da Covid-19 disparou também entre eleitores de Jair Bolsonaro.
A mais recente pesquisa Datafolha aponta que, entre os brasileiros que declaram ter votado em Bolsonaro no segundo turno da última corrida presidencial, 82% classificam como ótimo ou bom o trabalho da pasta comandada pelo médico e deputado licenciado Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Esse número foi registrado no levantamento feito de quarta (1º) até a última sexta-feira (3), período em que o presidente criticou publicamente a postura do ministro, que é favorável a medidas de isolamento social para frear o contágio pelo vírus, e chegou a dizer que “falta humildade” ao auxiliar.
O levantamento ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.
O índice de 82% representa um impulso de 18 pontos percentuais na avaliação do ministério dentro do grupo de eleitores de Bolsonaro. Na pesquisa feita de 20 a 23 de março, a aprovação do trabalho da pasta era de 64% nesse mesmo segmento.
A disparada da avaliação entre os bolsonaristas é similar à alta observada na aprovação do desempenho do ministério na média da população. Nesse mesmo período, a opinião positiva sobre a condução da crise pela pasta saltou de 55% para 76% entre todos os brasileiros.
A pesquisa aponta ainda que a diferença na avaliação do trabalho das duas autoridades foi ampliada nas últimas semanas entre os eleitores de Bolsonaro.
No levantamento de março, 56% dos entrevistados desse grupo diziam que o presidente fazia um trabalho ótimo ou bom e 64% aprovaram o trabalho da pasta de Mandetta. Agora, 54% deles têm opinião positiva sobre a conduta de Bolsonaro, contra os 82% que elogiam a atuação do ministério.
Na última semana, as divergências entre o presidente e o responsável pela área de saúde no governo se intensificaram. O ministro reforçou sua posição favorável ao isolamento social como ferramenta para conter o alastramento do vírus, enquanto Bolsonaro continuou a se manifestar pela retomada da atividade econômica.
O presidente visitou ambulantes no entorno de Brasília, em campanha pela reabertura do comércio, e divulgou mensagens que apontavam o prejuízo enfrentado pela população devido a medidas restritivas impostas por governadores em prefeitos. No fim de semana, ele manteve esse discurso e, em sintonia com líderes evangélicos, propôs um jejum para superar a crise.
Neste domingo, disse que integrantes de seu governo “viraram estrelas” e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter “medo de usar a caneta”.
Bolsonaro também destoou das orientações de Mandetta ao incentivar o uso da cloroquina em pacientes contaminados pelo coronavírus. O ministro costuma afirmar que o medicamento não é uma panaceia e que seu uso só deve ser feito em pessoas em estado grave ou crítico.
Ainda não há comprovação científica da eficácia do tratamento, mas há indícios nesse sentido.
Entre os eleitores de Bolsonaro, a aprovação do trabalho do presidente ficou estável nas últimas semanas –56% em março e 54% em abril. A avaliação negativa também oscilou dentro da margem de erro: de 14% para 18%.
Os bolsonaristas mantiveram sua avaliação positiva do trabalho dos governadores, outro grupo que se tornou alvo do presidente durante a crise. Na última pesquisa, 56% dos brasileiros que declaram ter votado no presidente dizem que o trabalho dos líderes regionais é ótimo ou bom –um percentual semelhante ao obtido pelo próprio Bolsonaro nesse segmento.
O Datafolha também perguntou aos entrevistados se eles concordam com o pedido do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para que os brasileiros não sigam as orientações do presidente sobre o coronavírus. Metade dos eleitores de Bolsonaro se opõe ao tucano, mas quase quatro entre dez deles estão de acordo com a declaração.
Entre o público que afirma ter votado no presidente há dois anos, 37% dizem que a população não deve seguir orientações de Bolsonaro. Outros 49% dizem que Doria está errado e que o país deve cumprir as recomendações feitas pelo chefe do Palácio do Planalto.
O pedido do governador paulista foi feito há uma semana, num momento agudo do embate entre o presidente e governantes regionais –a quem Bolsonaro culpa pela retração econômica provocada pelas medidas de contenção ao vírus, como o fechamento do comércio.
Doria, que se elegeu em 2018 com um discurso sintonizado com Bolsonaro, ampliou sua postura crítica ao Planalto e reforçou a recomendação para que a população fique em casa.
“Não sigam as orientações do presidente da República. Ele não orienta corretamente a população e lamentavelmente não lidera o Brasil no combate ao coronavírus e na preservação da vida”, declarou o tucano, no dia 30.
Ainda que a avaliação positiva do Ministério da Saúde tenha disparado entre os eleitores de Bolsonaro, a maior parte deles afirma que o presidente mais ajuda do que atrapalha no enfrentamento à Covid-19.
No grupo, segundo o Datafolha, 62% dos entrevistados deram respostas favoráveis a Bolsonaro, enquanto 29% desses eleitores disseram que o presidente atrapalha mais do que ajuda.
Na média da população, entretanto, essas proporções são diferentes. Para 51% dos brasileiros em geral, Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao vírus. Pensam o contrário 40% dos entrevistados ouvidos pelo Datafolha na última semana.