Trump agora critica flexibilização do isolamento
Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Dias depois de encorajar e aprovar protestos contra o isolamento social e de dar aos Estados a autonomia total para flexibilizar suas quarentenas, o presidente americano Donald Trump pisou no freio ao criticar na última quarta-feira 23 a decisão do governador republicano do estado da Geórgia, Brian Kemp, de reabrir salões, academias e outras empresas não essenciais em meio à pandemia de coronavírus. Trump, porém, declarou que o governo federal somente intervirá se perceber algo grave, sem dar detalhes sobre as possíveis punições.
“É muito cedo”, afirmou Trump em entrevista na Casa Branca, indicando que, embora seja a favor de uma reabertura gradual das economias, a Georgia está “se movendo um pouco rápido demais”. “Eu disse ao governador da Geórgia que discordo totalmente de sua decisão de abrir certas instalações, que viola as diretrizes da primeira fase de isolamento. Eu discordo do que ele está fazendo, mas quero deixar os governadores fazerem o que quiserem. (…) Agora, se eu vir algo totalmente notório, totalmente fora de linha, farei algo”, avisou Trump, que agregou manter ótima relação com o colega de partido e com a população local.
Kemp, velho e forte aliado de Trump, anunciou no início da semana que a Geórgia permitirá a abertura de salões de beleza, casas de massoterapia, pistas de boliche e academias de ginástica, enquanto restaurantes e cinemas devem abrir na próxima semana. A medida imediatamente provocou uma reação negativa de políticos, sobretudo democratas, e de especialistas de saúde.
“Nosso próximo passo medido é conduzido por dados e guiado por autoridades estaduais de saúde pública”, garantiu Kemp na última segunda-feira 20. “Estou confiante de que os empresários que decidirem reabrir seus negócios aderirão a operações básicas mínimas, que priorizem a saúde e o bem-estar de funcionários e clientes”.
Segundo a CNN, as críticas públicas de Trump contrariam a posição do próprio presidente no âmbito privado. Um fonte ligada à Casa Branca informou à emissora americana que o presidente americano e seu vice, Mike Pence, ligaram na noite anterior para Kemp para parabenizá-lo pelas medidas.
Nos últimos dias, Trump tem estimulado a reabertura gradual da economia dos estados que apresentem 14 dias seguidos de declínio de novas infecções e possuam testes suficientes e sistema de saúde capaz de atender toda a população. Não é o que vem ocorrendo na Géorgia, segundo as estatísticas.
De acordo com o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, um modelo influente frequentemente citado pela Casa Branca, a Geórgia atingiu o pico projetado para mortes diárias em 7 de abril e não deveria começar a relaxar o distanciamento social até 15 de junho. Dados coletados pela Universidade Johns Hopkins mostram que o estado tem mais de 20.000 casos confirmados de coronavírus e 800 mortes decorrentes do surto.
Prefeitos locais se opuseram claramente aos planos do governador Kemp. “Consultei minha mente e meu coração sobre isso e realmente não sei em que o governador está baseando sua decisão”, disse à CNN a prefeito da capital da Geórgia, Atlanta, a democrata Keisha Lance Bottoms. Ela disse estar considerando opções legais para manter o isolamento na cidade que “ainda não está fora de perigo”.
A senadora estadual Nikema Williams, presidente do Partido Democrata da Geórgia, culpou o presidente da República pela polêmica no Estado. “Você percebe que há um grave fracasso quando Donald Trump, cuja liderança fracassada é responsável pela gravidade da crise, distancia-se de seu amigo Brian Kemp, que está infinitamente determinado a tornar essa crise a mais dolorosa possível para os georgianos.”