Bolsonarismo já apela à violência com ameaças a instituições

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Como era esperado, com essa ampla tolerância com crimes de milícias ligadas ao presidente da República, a escalada segue se agravando e os bolsonaristas já usam violência contra qualquer um, sobretudo contra a imprensa.

Neste domingo, o bolsonarismo mostrou que, se nada for feito, não demora e as mortes em profusão no país não ocorrerão somente por conta do coronavírus.

O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez prestigiou pessoalmente uma manifestação em Brasília de apoiadores a ele e com críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso. Desta vez, o ex-ministro Sergio Moro também foi alvo do protesto.

Em declaração transmitida em live dele em rede social, Bolsonaro afirmou: “Tenho certeza de uma coisa, nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, e pela liberdade. E o mais importante, temos Deus conosco”.

Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada neste domingo (3) e foi até a rampa do Planalto para acenar aos manifestantes, aglomerados, que gritavam “Fora Maia”, entre outras coisas. Uma bandeira do Brasil foi estendida na rampa.

O presidente voltou a atacar governadores por medidas de isolamento social no combate à pandemia do coronavírus e criticou o que chamou de “interferência” em seu governo, numa alusão às recentes medidas do STF.

Diante da coordenação do chefe do Executivo federal, um grupo de manifestantes se reuniu em frente ao Museu Nacional, em Brasília. Em seguida, foi organizada uma carreata em direção ao Palácio do Planalto. O ato promoveu aglomerações num momento que Brasil tem mais de 6.000 mortes pela Covid-19 e 96 mil casos confirmados.

Embalados por palavras de ordem e cartazes com críticas ao ex-ministro Sergio Moro, que deixou o governo recentemente, apoiadores afirmavam que estão “fechados com Bolsonaro”.

Ao chegar em frente ao Congresso, o grupo deixou os carros e desceu em direção ao Palácio do Planalto diante da promessa feita por um dos organizadores de que Bolsonaro apareceria para vê-los.

Durante a caminhada foram entoados gritos de apoio ao presidente e de críticas a Moro e a Alexandre de Moraes, do STF, que barrou a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, para o comando da Polícia Federal.

Moro, chamado no sábado (2) de Judas pelo presidente, recebeu palavras maia ofensivas do grupo, como “canalha” e “moleque de Curitiba”.

Entre as mensagens dos cartazes havia “Armas para cidadãos de bem”, “Fora Maia”, “Fora Alcolumbre”. Os manifestantes entoaram o hino nacional e rezaram um Pai Nosso em frente à Catedral Metropolitana. Em frente ao STF, alguns gritaram “vamos invadir”. “Olé, olé, STF é puxadinho do PT”.

Os manifestantes foram se enfurecendo e, repentinamente, começaram a ameaçar  jornalistas que cobriam o ato na rampa do Palácio do Planalto realizado neste domingo (3) com a presença do presidente da República.

Enquanto o presidente acenava para apoiadores, o grupo passou a dirigir ofensas ao repórter fotográfico Dida Sampaio, de O Estado de S. Paulo, que registrava o momento. ​

Um grupo se formou ao redor do fotógrafo, que foi derrubado por duas vezes e chutado pelas costas, além de tomar um soco no estômago. Além dele, o motorista do jornal, Marcos Pereira, também foi agredido.

Outros repórteres e profissionais de imprensa foram então empurrados e ofendidos verbalmente, incluindo os da Folha. Um repórter do site Poder360 também foi agredido pelos manifestantes.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro foi alertado, segundo imagens transmitidas pela live de sua rede social, da confusão envolvendo jornalistas. Em lugar de tomar providências para coibir a violência, prestigiou  apoiadores violentos e suas  críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso.

Enquanto isso, apoiadores cercaram um grupo de repórteres que tentavam se locomover.

A Polícia Militar, que acompanhou o ato durante todo o momento, não apartou a confusão ao ser acionada pela Folha.

Somente em​ segundo momento, quando repórteres foram expulsos do local, a PM cercou a imprensa para fazer o isolamento.

Profissionais foram retirados do local depois sob a escolta e veículo da polícia.

Na sexta-feira, um grupo de 60 enfermeiros que protestava na Praça dos Três Poderes, em defesa do isolamento social e em homenagem aos profissionais de saúde que morreram no combate à pandemia, foram agredidos verbalmente por alguns militares bolsonaristas.

Usando máscara, os enfermeiros carregavam cruzes e faziam uma manifestação silenciosa. Um grupo menor, com roupas verde-amarela, chegou insultando os profissionais, chamando-os de “analfabetos funcionais”e “covardes”.

O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) afirmou que vai processar os agressores.

Os ataques aos jornalistas em frente à rampa do Palácio do Planalto acontecem quando se celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Neste ano, o tema definido pela ONU (Organização das Nações Unidas) é “jornalismo sem medo ou favor”.

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) divulgou nota em que “condena veementemente as agressões sofridas por jornalistas e pelo motorista do jornal O Estado de S. Paulo quando cobriam os atos realizados neste domingo em Brasília” e que espera que “as autoridades responsáveis identifiquem os agressores, que eles sejam levados à Justiça e punidos na forma da lei”.

“Além de atentarem de maneira covarde contra a integridade física daqueles que exerciam sua atividade profissional, os agressores atacaram frontalmente a própria liberdade de imprensa. Atentar contra o livre exercício da atividade jornalística é ferir também o direito dos cidadãos de serem livremente informados.”

A presidente da Fenaj (Federação Nacional de Jornais), Maria José Braga, condenou as agressões.

“Nossa posição é de condenação a toda e qualquer agressão a jornalistas”, disse Braga. “Hoje foram dois repórteres fotográficos agredidos em Brasília. Repudiamos todas elas e pedimos o apoio da sociedade ao jornalismo e aos jornalistas.”

O que diz a lei:

São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra […] o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais” das unidades da Federação. A lei também diz que é crime de responsabilidade contra a administração “expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição”.