Nenhum médico assina protocolo da cloroquina

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Foto: HAL GATEWOOD/UNSPLASH

O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (20/05) novo protocolo para uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, doença causada por coronavírus. Agora, a droga pode ser utilizada na fase inicial da infecção.

Contudo, o documento divulgado nos canais oficiais do governo federal não é assinado por nenhum médico. O texto citas 76 referências bibliográficas e faz ressalvas para a falta de comprovação científica na eficácia do composto no tratamento.

A mudança no protocolo resultou na demissão de dois titulares do Ministério da Saúde: o médico ortopedista Luiz Henrique Mandetta e o oncologista Nelson Teich. Atualmente, a pasta é comandada interinamente pelo general Eduardo Pazuello.

O protocolo prevê o uso do medicamento para pacientes com sintomas leves, bem como crianças, gestantes e mulheres que tiveram filhos recentemente.

Entre as fontes de embasamento, o documento cita o Conselho Federal de Medicina (CFM), estudos próprios do Ministério da Saúde, a Agência Europeia de Medicina, reportagens publicadas em sites, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o Hospital Israelita Albert Einstein e artigos científicos.

O CFM, em parecer de 23 de abril, não recomendou o uso da cloroquina, mas decidiu liberar os médicos a receitarem o remédio em três casos específicos. Quando o paciente estiver em estado crítico ou internado em terapia intensiva ou com lesão pulmonar estabelecida.

Diversas pesquisas em todo o mundo apontam que a droga não tem eficácia para o tratamento. Ao contrário, afirmam que há efeitos colaterais graves que podem elevar as chances de morte do paciente, com o aumento de complicações cardíacas.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) declarou que o uso da cloroquina contra a Covid-19 é “perigoso, pois tomou aspecto político inesperado”. Para a entidade, a mudança do protocolo está no caminho inverso da ciência.

“A escolha desta terapia, ou mesmo a conotação que a Covid-19 é uma doença de fácil tratamento, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica com esta pandemia. Este posicionamento não apenas carece de evidência científica, além de ser perigoso, pois tomou um aspecto político inesperado”, destaca, em nota.

O Ministério da Saúde fez ressalvas técnicas de que, na prática, a droga não tem eficácia comprovada. A mudança ocorreu após pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o uso em larga escala. Dois ex-ministros da Saúde pediram demissão por discordarem do protocolo.

A observação da pasta alerta para efeitos colaterais, falta de comprovação científica de eficácia e regras para prescrição médica. Além disso, o paciente deve autorizar o uso e assumir os riscos derivados do tratamento.

“Apesar de serem medicações utilizadas em diversos protocolos e de possuírem atividade in vitro demonstrada contra o coronavírus, ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o benefício inequívoco dessas medicações para o tratamento da Covid-19″, destaca trecho da nota técnica.

Com isso, a responsabilidade para a escolha do remédio deve ser pensada e negociada entre médico e paciente. “Assim, fica a critério do médico a prescrição, sendo necessária também a vontade declarada do paciente, conforme modelo anexo”, conclui.

Além da ressalva técnica, a defesa do protocolo frisa a mesma tendência: “Até o momento, não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a Covid-19”.

Metrópoles