Sociólogo diz que Bolsonaro vai perder mais popularidade

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Foto: Reprodução

Com 1/3 de apoio do eleitorado, segundo pesquisa Datafolha, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ainda tem “gordura para queimar”, avalia o cientista político Fernando Abrucio, professor da Fundação Getulio Vargas. O problema, ele diz, é que durante os próximos dois meses haverá muitas “pedras no caminho” do presidente, com a escalada da covid-19 no Brasil, o agravamento da crise econômica e uma série de investigações em curso envolvendo o clã Bolsonaro, uma combinação que pode fazer mesmo uma parte relativamente estável de sua popularidade derreter.

Na “Live do Valor” desta sexta, Abrucio destacou que o presidente trava disputas com o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e partidos políticos. “Se ele não tivesse essa gordura, já estaria em situação quase de final do seu governo. Só que essa gordura deve enfrentar nos meses de maio e junho uma escalada maior da doença. Vai morrer mais gente, mais gente vê isso na TV, começa a chegar aos mais pobres, talvez ao interior do país. A crise econômica vai derreter outra parte do apoio. E pode derreter ainda mais no polo judicial”, diz Abrucio, citando investigações como a CPI das Fake News e as mais recentes denúncias apresentadas pelo ex-ministro Sergio Moro, sobre possível intenção de Bolsonaro de intervir na Polícia Federal.

Para Abrucio, o STF é “o principal ator hoje contrário ao presidente. É aquele capaz de trazer fatos que podem levar a um derretimento do governo ou até a um impeachment”. “[Bolsonaro] tem dois meses pela frente com muitas pedras pelo caminho que podem derreter esse um terço de apoio para algo mais próximo de 20%”, afirma o professor. Com a popularidade do presidente indo abaixo desse patamar, aí a queda pode ser abrupta. “Chega o ponto em que o derretimento cai como uma pedra de um edifício, muito rapidamente. Bolsonaro tem gordura para gastar comparado ao que aconteceu com Collor e Dilma, mas tem muita pedra no caminho”, diz.

Na avaliação de Abrucio, Bolsonaro está em uma “grande armadilha”, dividido entre a manutenção de uma lógica antissistema que o permitiu ganhar a eleição, ao mesmo tempo em que precisa enfrentar as três crises (na saúde, economia e política). “A lógica antissistema o levou a ganhar a eleição, manter uma base de apoio que permitiu que ele errasse muito em um ano e cinco meses de governo. Mas continuar com essa lógica vai corroendo o apoio a ele dentro do sistema político, da própria sociedade. E ele ainda teve o azar de, no meio do caminho, encontrar uma pandemia”, disse Abrucio.

Para o professor, a estratégia de se autocultivar enquanto “mito” é uma “espiral negativa”. No fundo, afirma Abrucio, Bolsonaro está aumentando as crises econômicas e de saúde porque alimenta diariamente a crise política. Na avaliação do professor, Bolsonaro “percebeu que não tem capacidade de governar” e, por isso, “prefere manter a história do mito”. “Tem cálculo político nisso, mas também tem falta de competência política. O cálculo é que ele tem que ser o político antissistema para o seu eleitorado. Mas as instituições vão se esgarçando dia a dia e pode chegar uma hora em que, mesmo em relação ao público muito fiel, diante de uma situação tão incontrolável, Bolsonaro tenha dificuldade de se manter”, afirma.

Valor Econômico