Bolsonaro pode pôr R$ 90 bi nas mãos do Centrão

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Foto: MARCOS CORRÊA/PR/JC

Um indicado pelo Centrão, Alexandre Cabral, foi destituído ontem da presidência do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), após passar um dia no cargo. Mas o bloco parlamentar, que reúne uma série de legendas fisiológicas do Congresso, pode ganhar duas secretarias do Ministério da Saúde que, juntas, controlam um orçamento de R$ 90 bilhões.

Segundo fontes, o governo negocia com líderes partidários o comando da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps) e a Secretaria de Atenção Especializada (Saes). As fontes relatam que esses postos estão entre os mais visados no ministério, justamente por conta do grande volume de recursos que administram. A Saes tem um orçamento de R$ 60,21 bilhões, e a Saps, de R$ 29,85 bilhões. São as duas secretarias com mais dinheiro na pasta.

O governo, no entanto, não pretende entregar ao bloco a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), posto chave da pasta no momento em que o país combate a pandemia causada pelo coronavírus.

O cargo ficou vago na semana passada, quando o secretário Wanderson Oliveira, remanescente da gestão Luiz Henrique Mandetta, foi exonerado. Wanderson foi o principal responsável pelas diretrizes que nortearam o ministério no combate à covid-19 no país, muitas das quais contrariavam a orientação do presidente Jair Bolsonaro. Entre outras coisas, ele elaborou as chamadas “medidas não farmacológicas”, como o distanciamento social.  A saída de Wanderson ocorre no momento em que Bolsonaro negocia postos em diversos ministérios com o Centrão, em busca de apoio no Congresso. Segundo fontes disseram ao Valor, porém, o governo avalia não ser adequado neste momento entregar essa secretaria ao bloco parlamentar, conhecido pelo fisiologismo.

Bolsonaro já está sob críticas por manter há 20 dias um ministro da Saúde interino em meio à pandemia. O general Eduardo Pazuello, em caráter provisório, assumiu o posto em 15 de maio, após o pedido de demissão de Nelson Teich.

Nos dias seguintes à saída de Teich, cogitou-se entregar também a pasta ao Centrão. Mas a avaliação é que isso teria repercussão negativa inclusive entre o eleitorado bolsonarista.

O Centrão já emplacou Giovanne Gomes da Silva, comandante da Polícia Militar em Minas Gerais, para a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) – uma indicação do PSD.

Ontem, a notícia da destituição do presidente do BNB, Alexandre Cabral, gerou uma guerra de narrativas nos bastidores entre as equipes do Ministério da Economia e da Secretaria de Governo (Segov). A indicação de Cabral para o posto havia aprovada em uma reunião-relâmpago do conselho do banco na terça-feira.

Segundo fontes, sua nomeação teve o aval do PL e do PTB e teria passado pelo crivo da Segov. Cabral teve que deixar o posto depois que se descobriu que o executivo é alvo de investigação no Tribunal de Contas da União (TCU) por sua gestão à frente da Casa da Moeda, em 2018.

Consultada, a Segov disse que, mesmo sendo responsável por fazer a interlocução junto aos ministérios, existem pleitos que são tratados diretamente em cada pasta. A Segov afirma ainda que a nomeação do presidente do BNB especificamente não por seu aval. Além disso, o Planalto nega que o indicado tenha vindo do Centrão.

Valor Econômico