Na dianteira, Biden diz que Trump não lidera

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Foto: JIM WATSON / AFP

Em um dos mais duros discursos vindos do meio político sobre os protestos nos EUA, o ex-vice-presidente Joe Biden acusou o presidente Donald Trump de alimentar o discurso de ódio no país, e disse que “nenhum líder será capaz de calar” as vozes do povo americano.

— Donald Trump transformou este país em um campo de batalha, alimentada por velhos ressentimentos e novos medos — afirmou Biden, adversário do republicano nas eleições de novembro. — É isso o que queremos ser? É isso que queremos passar para nossos filhos e netos? Medo, raiva, acusações, ao invés da busca pela felicidade? Incompetência, ansiedade, egoísmo?

Criticado por sua estratégia de reduzir as atividades durante a quarentena, quando suas aparições se resumiram, na maioria, a transmissões feitas de sua casa em Delaware, Biden voltou a participar de eventos públicos. Nesta terça-feira, em um salão da prefeitura da Filadélfia, ele usou o púlpito para fazer críticas à violência policial contra os manifestantes e declarar que o país “está clamando por liderança”.

— Não vou trafegar pelo medo e pela divisão. Não alimentarei as chamas do ódio — afirmou.

Ao falar da morte de George Floyd, disse que as últimas palavras dele, “não consigo respirar”, não morreram com ele.

— Elas falam a uma nação onde muitas vezes a cor da pele pode colocar sua vida em risco. A uma nação onde mais de 100 mil pessoas morreram por causa de um vírus e onde 40 milhões de americanos estão desempregados, com um número desproporcional de mortes e desempregados concentrado na comunidade negra.

Em um ataque direto a Trump, criticou a repressão aos manifestantes em todo o país, citando especificamente a violência usada contra a multidão que estava na frente da Casa Branca nesta segunda-feira — a dispersão ocorreu para permitir que o presidente fosse à Igreja Episcopal de São João, em uma visita criticada por autoridades religiosas.

— Quando manifestantes pacíficos são dispersados para que um presidente, um presidente, diante da casa do povo, a Casa Branca, usando gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para montar uma foto de uma das igrejas mais históricas do país, podemos ser perdoados por acreditar que o presidente está mais interessado em poder do que em princípios — afirmou.

Biden declarou ainda seu apoio aos protestos pacíficos nas ruas dos EUA.

— Não permitiremos que um presidente cale nossa voz. Não permitiremos que aqueles que veem no momento uma oportunidade para semear o caos joguem uma cortina de fumaça para nos desviar das questões legítimas no centro desses protestos.

Donald Trump não comentou as declarações de Joe Biden — em sua conta no Twitter, em meio a ataques ao governador de Nova York, que recusou sua oferta para o envio da guarda nacional para a cidade, usou a expressão “maioria silenciosa”, um termo que foi popularizado pelo presidente Richard Nixon nos anos 1960. É uma referência ao que considerava ser a parcela da população que em tese apoia seu governo e suas ideias, mas que não expressa isso publicamente.

 

Desde o início dos protestos, o presidente vem adotando um tom que beira o bélico nas redes sociais, o que levou o Twitter a marcar duas de suas publicações como “em desacordo com as regras da rede social”, uma vez que, segundo a empresa, elas “glorificavam a violência”. Tal ação levou Trump a anunciar planos para afrouxar algumas das regras legais que protegem as empresas de mídias sociais, como o Twitter e o Facebook.

A mesma plataforma foi usada para fazer acusações contra os manifestantes e ameaças, como quando disse que classificaria o movimento antifa como uma “organização terrorista”, mesmo não tendo autoridade para tal e diante do fato de que os antifa são um movimento, não um grupo organizado.

Sobre Biden, compartilhou na segunda-feira uma notícia da agência Reuters sobre integrantes da campanha do ex-vice-presidente que contribuem com uma organização que paga fianças de pessoas presas em manifestações em Minneapolis. E comentou:

“O pessoal do Joe Biden Sonolento são tão radicais de esquerda que trabalham para tirar os anarquistas da cadeia, provavelmente mais (pessoas). Joe não sabe nada sobre isso, ele não tem ideia, mas eles serão o poder verdadeiro, não Joe. Eles mandam no jogo. Aumento de impostos para todos, mais!”

 

Mesmo em meio à pandemia de Covid-19 e aos protestos de costa a costa, os EUA realizam primárias em oito estados e no Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington. O voto presencial está sendo realizado, mas as próprias autoridades recomendaram que os eleitores votassem por correio. Em locais onde o toque de recolher está em vigor por causa dos protestos, como Filadélfia, a aplicação da medida será amenizada.

A votação desta terça-feira está sendo vista como um ensaio para as eleições de novembro. As seções eleitorais, por exemplo, estão operando com um número reduzido de eleitores e fiscais, para fazer valer as regras de distanciamento social, mas que também pode aumentar a espera para votar. Outro ponto é o voto por correio: alguns estados relatam aumento substancial nessa modalidade, e ainda estudam como farão para computar os resultados.

Apesar de os candidatos democrata e republicano já estarem definidos, indicações para eleições à Câmara e ao Senado estão em disputa nesta terça-feira.

O Globo