OAB lidera novo movimento pró democracia

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Com a campanha Brasil pela Democracia, mais de 50 entidades querem se unir aos movimentos com bandeiras de defesa de instituições democráticas que têm pipocado na sociedade civil nas últimas semanas.

Entre os participantes da iniciativa, que será lançada na próxima segunda-feira (29), estão a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e também grupos ligados à esquerda, que fazem oposição ao governo Jair Bolsonaro, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Segundo o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, não houve exatamente um ponto de virada para as organizações se unirem. “É uma escalada, um estresse permanente que o país está vivendo”, diz.

Sobre ataques às instituições feitos por Jair Bolsonaro, o advogado afirma que “o presidente não é, exatamente, um adorador da democracia”.

Santa Cruz já foi um dos atacados pelo presidente, com quem trocou acusações. Em julho do ano passado, Bolsonaro disse que, se o advogado quisesse, contaria como o pai dele desapareceu na ditadura militar (1964-1985).

“Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”, afirmou o mandatário, difundindo a versão de que Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, foi morto por militantes de esquerda, o que contradiz a Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo na gestão Dilma Rousseff (PT).

Para Santa Cruz, a ofensa pessoal fez parte do pacote de ameaças às instituições. “Ele tem uma forma de ver a OAB que remonta aos anos 1970, ao final da ditadura”, afirma.

As hashtags #BrasilpelaDemocracia e #BrasilpelaVida vão marcar o lançamento da campanha nas redes sociais. Nas ruas, por enquanto, estão previstas apenas projeções em pontos icônicos de algumas cidades. Não há intenção de fazer atos presenciais agora, por causa da pandemia do coronavírus.

As entidades afirmam que decidiram se unir contra os ataques à imprensa, ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso. O site de lançamento frisa ainda que a vida no país está ameaçada pela “descoordenação do governo federal no combate à pandemia” da Covid-19.

A coalizão também marcou, para os dias 4 e 5 de julho, o evento online Virada da Democracia. A programação ainda não foi divulgada, mas o site oficial antecipa a realização de palestras e atividades culturais.

Com esse movimento, as mais de 50 entidades engrossam o caldo de oposição a ataques do governo contra instituições. Desde o fim de maio, movimentos como Estamos Juntos, Basta! e Somos 70% tentam criar o que eles chamam de frente ampla contra o autoritarismo.

Para Santa Cruz, o momento obriga a sociedade civil a superar diferenças “para unir todos os democratas do país”.

Nenhum dos movimentos fala abertamente na defesa do impeachment do presidente. Uma outra mobilização que abraça essa pauta é o Mulheres Derrubam Bolsonaro, que surgiu após a divulgação da reunião ministerial citada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal.

No dia seguinte à publicação do registro do encontro, a psicóloga Patrícia Zaidan fez um vídeo para as redes sociais em que criticava as falas de Bolsonaro. “Eu falei principalmente sobre a afirmação dele de que a população precisava se armar”, lembra Patrícia.

“Isso causaria um banho de sangue. O feminicídio tomaria proporções altíssimas”, afirma a idealizadora.

Mesmo com a defesa clara do impeachment —fator que poderia dificultar um consenso—, o manifesto conseguiu agregar mulheres de diversas correntes políticas e movimentos sociais. “Nós estamos vivendo um período muito parecido com a redemocratização do país”, diz Patrícia.

Folha de SP