Parlamentares pedem explicações sobre fuga de Weintraub

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Foto: Reprodução

Parlamentares cobraram neste sábado (20), no programa GloboNews Debate, explicações do governo federal sobre as circunstâncias da ida de Abraham Weintraub aos Estados Unidos, onde assumirá um cargo de diretor no Banco Mundial.

Investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Weintraub anunciou a sua saída do comando do Ministério da Educação na última quinta-feira (18), mas a sua exoneração só foi publicada no “Diário Oficial da União” neste sábado, pouco depois da divulgação da informação de que ele havia chegado em território americano.

Para o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), que é diplomata e já foi ministro da Cultura, precisa ser esclarecido como Weintraub deixou o Brasil sem haver uma autorização do presidente Jair Bolsonaro no “Diário Oficial”.

“Ministro de estado só pode se ausentar com autorização do presidente, e isso não aconteceu”, afirmou.

Na avaliação dele, a “própria nomeação” para o Banco Mundial “já seria escandalosa por si só”, mas ainda se somou a esse fato a ida apressada aos Estados Unidos. “Estaríamos diante de um desvio de finalidade?”, indagou sobre o uso de um passaporte diplomático para garantir a entrada de Weintraub nos EUA. Segundo ele, tratou-se de uma “ verdadeira fuga”, que “pode ser comparada à fuga de um miliciano”.

Brasileiros estão obrigados a fazer quarentena para entrar nos Estados Unidos em razão da pandemia do novo coronavírus. Mas o decreto americano que definiu essas regras tem exceções, uma das quais diz respeito a vistos que autorizam a entrada diretamente.

Ministros têm direito a esse visto especial. Como, ao desembarcar em Miami, Weintraub ainda não havia sido exonerado, ele pode ter se valido desse visto para entrar.

“Vamos investigar a fundo o papel do Itamaraty, que, infelizmente, tem sido usado em favor de interesses nada republicanos”, afirmou Calero.

Na visão do deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP), “o que aconteceu foi uma fuga oficial, fuga no Diário Oficial”.

“Se até ontem era o pior ministro da Educação, hoje é o primeiro ministro a ter uma fuga oficial. O presidente da República é quem autoriza, ministro não pode sair do país sem autorização publicada no Diário Oficial”, disse Padilha, que é um dos vice-líderes do PT na Câmara.

Líder do PSL no Senado, o senador Major Olímpio (SP) disse que essas “são interrogações que devem ser feitas mesmo” ao governo federal.

“Na minha avaliação, foi um acordo ele permanecer ministro e tocar em solo americano, com passaporte vermelho. As regras hoje são mais para os amigos do que necessidade diplomática”, afirmou.

Segundo Olímpio, a direção no Banco Mundial não poderia ser usada como “exílio de amigo”. “O Brasil sempre primou por colocar quadros técnicos no Banco Mundial. (…) Não dá para [o Banco Mundial] ser exílio de amigo. Não dá para ser bico para fazer no exterior”, disse.

O senador ainda levantou dúvidas a declaração de Weintraub de que tinha pressa para ir aos Estados Unidos porque estaria recebendo ameaça de morte. “Vocês acham que alguém está sendo ameaçado vai numa manifestação pública?”, questionou em referência à presença de Weintraub em um protesto no último fim de semana.

Major Olímpio também fez críticas à gestão dele à frente do Ministério da Educação. “O povo brasileiro não vai sentir a menor falta desse ministro. Em um anos e dois meses, não apresentou nada em políticas públicas de educação. Ele se portava mais como ativista político”, disse.

O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), um dos principais aliados do governo Bolsonaro, saiu em defesa de Weintraub. Disse que o ex-ministro sempre se mostrou “muito leal” ao presidente e atribuiu o seu envolvimento em polêmicas à falta de “traquejo político”.

Sobre a nomeação dele para a diretoria do Banco Mundial, Nunes lembrou que Weintraub é economista e já trabalhou no Banco Votorantim e que, portanto, se tratou de uma “indicação técnica”. “Ele não é inexperiente, ele entende do ramo banco”, afirmou o deputado. E acrescentou: “Ele tem condições de estar no Banco Mundial de sobra”.

Guilherme Boulos, candidato à presidência da República em 2018 pelo PSOL, disse que Weintreub encerrou sua “participação no Ministério da Educação de forma patética, saindo pela porta dos fundos”. “Não contribuiu em nada e ainda, como último ato, anulou decisão que obrigava universidades federais a ter plano para inclusão de negros, indígenas e pessoas com deficiência em mestrado e em doutorado”.

Weintraub é investigado em inquérito que tramita no STF e apura a disseminação de fake news e ameaças a ministros do tribunal. Em reunião ministerial em 22 de abril, ele afirmou: “‘Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.

O então ministro da Educação foi incluído no inquérito pelo relator, ministro Alexandre de Moraes, em razão das ofensas ao Supremo.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, chegou a pedir a retirada de Weintraub do inquérito, por meio de um pedido de habeas corpus, mas, na quarta (17), por 9 votos a 1, o STF rejeitou.

Ele também responde a outro inquérito no Supremo, este a pedido da Procuradoria-Geral da República, para apurar suposto crime de racismo. Em abril, Weintraub publicou mensagem em uma rede social indicando que a China poderia se beneficiar, de propósito, da crise do coronavírus. Na mesma postagem, ele ridicularizou o fato de alguns chineses, quando falam português, trocarem a letra R pela letra L.

Em rede social, na sexta-feira, Weintraub afirmou que pretendia sair do Brasil “o mais rápido possível”. Neste sábado, na mesma rede social, em resposta a uma apoiadora, ao ser questionado se o irmão também iria para os Estados Unidos, ele escreveu: “As coisas aconteceram muito rapidamente…”. A mensagem tinha indicação de origem em Miami.

G1