Protestos contra o governo põem Planalto em pânico
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O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar, ontem, sobre manifestações contra o seu governo, que dizem ser a favor da democracia e contra o fascismo — houve protestos no domingo passado e há novos atos marcados para amanhã. O chefe do Executivo não esconde a preocupação com os movimentos, uma vez que vinha, há quase três meses, vendo nas ruas somente mobilizações a seu favor. A primeira delas foi em 15 de março, e se tornaram frequentes aos domingos, em Brasília.
Com o cenário de pandemia do novo coronavírus, no qual a orientação é manter distanciamento social, os atos contra o governo tinham se restringido a panelaços às janelas. Mas a situação parece ter mudado. Bolsonaro falou, ao longo da semana, sobre as pessoas que fizeram manifestação no último domingo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também houve ato na segunda-feira (1º) em Curitiba (PR). E, ontem, na inauguração do hospital de campanha de Águas Lindas (GO) — o primeiro da União para atender a pacientes com covid-19 —, ele não deu uma palavra direcionada às vítimas da doença e a seus familiares, mas não se esqueceu dos chamados “antifas” (antifascistas). Bolsonaro, mais uma vez, chamou aqueles que protestaram contra seu governo de “marginais, terroristas, maconheiros e desocupados”. “Não sabem o que é economia, o que é trabalhar para ganhar seu pão de cada dia e querem quebrar o Brasil em nome de uma democracia que eles nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela”, disparou.
Bolsonaro voltou a pedir aos apoiadores que não façam atos amanhã e ressaltou que a Polícia Militar deve agir com rigor, sugerindo até o uso da Força Nacional. “O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareça às ruas nestes dias para que as forças de segurança, não só estaduais, bem como a nossa, federal, façam seu devido trabalho se, porventura, estes marginais extrapolarem os limites da lei.”
O chefe do Executivo ainda direcionou uma fala ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), dizendo que informações da inteligência não apontam movimentos no estado. “Tenho certeza, Caiado, de que, se vierem aqui, você vai tratar com a dureza da lei que eles merecem.” Mesmo com a declaração, existe previsão de manifestação contra o governo federal em Goiânia, além de outras capitais, como Brasília, São Paulo, Salvador, Fortaleza, Cuiabá e Curitiba.
Apesar da vontade de Bolsonaro de que a Força Nacional esteja nas ruas de Brasília amanhã, a princípio, o uso da tropa não é cogitado pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Na quinta-feira, o presidente tinha sugerido ao secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, um reforço na segurança, mas não será atendido nos termos que pediu.
O Palácio do Buriti informou, no entanto, que “as forças de segurança do Distrito Federal, assim como outros órgãos do GDF, estarão nos locais dos eventos com o efetivo necessário para garantir a livre manifestação e a ordem”. “As forças de segurança estarão posicionadas em toda a Praça dos Três Poderes e arredores, de forma a garantir que as manifestações ocorram de maneira pacífica. O trânsito de automóveis, a exemplo do que ocorreu no domingo passado, dia 31 de maio, não será permitido no local”, anunciou o governo. “Agentes do GDF também vão orientar os manifestantes sobre a obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos, dando continuidade à política de conscientização da prevenção da covid-19.”
Na mesma linha dos demais protestos contra o Executivo federal que ocorrerão pelo país, o ato em Brasília terá como principais bandeiras a defesa da democracia e o combate ao racismo e ao fascismo. O movimento surgiu da ideia conjunta construída entre torcedores de diversos times de futebol locais e de fora do DF.
“Este ato é uma conglomeração de diversos grupos sociais, que têm como principal característica fazer oposição ao fascismo por quaisquer meios necessários, com objetivos pacíficos e disseminando a paz. O nosso foco declarado é lutar contra a extrema direita e contra movimentos racistas, xenófobos e supremacistas brancos diretamente”, afirmaram os organizadores. “Nossa luta é apartidária em defesa do Brasil. Repudiamos atos violentos, queima de bandeiras, depredação do patrimônio público. Ressaltamos que o nosso ato será totalmente pacífico.”
Apesar do pedido do presidente, pelas redes sociais, a ativista Sara Winter, líder do grupo bolsonarista “300 do Brasil”, tem convocado os integrantes do movimento para encontro no estacionamento da Fundação Nacional de Artes (Funarte), que fica próximo à Torre de TV e a menos de 3km da Biblioteca Nacional, ponto de encontro dos manifestantes contrários ao governo federal.
Se a presença da Força Nacional for autorizada, não será a primeira vez que esse contingente vai atuar sob a gestão Bolsonaro. Em maio do ano passado, por exemplo, os agentes acompanharam atos na Esplanada. A função da Força, nesse tipo de missão, é de proteção do patrimônio público, para evitar que haja depredações de
prédios de ministérios.