Weintraub quer tornar a República anticomunista

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Foto: Geraldo Magela / Geraldo Magela/Agência Senado

Na mesma semana em que uma operação da Polícia Federal bateu à porta de vários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para investigar ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), deputados bolsonaristas e membros do governo participaram de uma conferência virtual para debater política. A apreensão de computadores e equipamentos pela polícia, no entanto, impediu a participação de alguns deles no evento.

O evento foi organizado pelo grupo Movimento Brasil Conservador (MBC), que apoia o governo Bolsonaro e ajuda a difundir ataques ao Supremo nas redes sociais. Os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF) e o blogueiro Allan dos Santos tinham presença marcada, mas não conseguiram enviar o material gravado para a conferência.

“Algumas pessoas, por causa dos arroubos do STF, tiveram seus equipamentos confiscados, como o Bernardo Küster. Outros foram atingidos de forma indireta, como a Bia Kicis e o Allan dos Santos, e não pudemos ter acesso às palestras”, disse em vídeo o poeta Anderson Sandes, um dos organizadores.

O evento, organizado para oferecer uma “verdadeira resistência contra às ditaduras em Brasília, pela liberdade dos brasileiros”, contou com uma programação de ensinamentos do escritor Olavo de Carvalho e críticas à esquerda. Houve palestras, por exemplo, sobre “globalismo”, mentalidade revolucionária, Foro de São Paulo, defesa contra o comunismo, guerra cultural e análises da situação política atual.

Personagem destaque da polêmica reunião ministerial de 22 de abril, o ministro Abraham Weintraub foi um dos conferencistas. Num vídeo gravado previamente, ele afirmou ser preciso “mudar as regras da Nova República” para impedir que Brasil se torna “paraíso esquerdista”. Ele definiu o regime político brasileiro como uma “estrutura montada pela esquerda, oligarcas e corruptos”.

“Criou-se uma estrutura para levar o Brasil para um paraíso esquerdista. E como a gente resolve isso? Indo atrás dos oligopólios e monopólios, tendo coragem para enfrentar a discussão ideológica e mudando as regras da Nova República, porque elas foram montadas por um sistema que sempre vai gerar a mesma coisa”, declarou Weintraub.

Assim como seu irmão Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência, que palestrou na sexta-feira, o ministro questionou a separação dos Três Poderes, sistema sob o qual funcionam as repúblicas democráticas em todo o mundo. Para ele, Judiciário, Legislativo e “burocratas do Executivo” não conseguem impedir a captura do Estado pela esquerda corrupta.

“Tem todo o sistema de freios e contrapesos, tudo que deveria impedir que esse mecanismo se construísse. Você tem o Judiciário, o Legislativo, você tem burocratas no Executivo que deveriam impedir isso”, disse Abraham Weintraub.

Arthur Weintraub, por sua vez, discorreu em sua palestra sobre a Revolução Francesa, criticou o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau e afirmou que a separação entre os Três Poderes numa república democrática, o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, “não funcionam na prática”. Apesar da afirmação, não deu maiores explicações.

Um dos investigados por disseminar notícias falsas e promover ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) disponibilizou nesta sexta-feira uma palestra virtual em que critica o que chamou de “CPMI da Censura”. Segundo ele, o inquérito faz parte de um plano do STF, “grande mídia” e opositores de Jair Bolsonaro para censurar a liberdade de expressão e “retomar o poder”.

Além de outros sete parlamentares, Barros foi um dos alvos da operação da Polícia Federal da última quarta-feira. As buscas miraram computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos em endereços ligados aos investigados em cinco estados e no Distrito Federal. Junto a empresários e blogueiros, o grupo é suspeito de operar e financiar uma rede de difamação na internet.

Outro investigado, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), envolvido no episódio da quebra da placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, ministrou palestra sobre o socialismo no Brasil. Depois de afirmar que “professor esquerdista não é professor” e que “esquerdista não presta para nada”, defendeu que os conservadores precisam aprender com a esquerda a se unir por um propósito comum.

O secretário de alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ) e Márcio Labre (PSL-RJ), além de youtubers e blogueiros de direita, também participaram do congresso.

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