Bancada bolsonarista quer limar líder do governo na Câmara

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

A liderança do governo na Câmara dos Deputados é o mais recente capítulo da insatisfação de aliados com a articulação política do governo federal. Há um movimento para tentar substituir o líder, Vitor Hugo (PSL-GO), mas os próprios aliados não se unem em torno de uma alternativa, enquanto o presidente Jair Bolsonaro tem prestigiado o parlamentar, a quem tem apreço.

O governo vem construindo nos últimos meses uma negociação, principalmente com o centrão, para ampliar a sua base. Cargos foram entregues e recursos da Saúde foram liberados para municípios indicados por parlamentares na tentativa de melhorar o ambiente na Câmara. Mas o Executivo segue com poder limitado de influenciar nas votações, o que gera desgaste também para o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

Em uma tentativa de mostrar a necessidade de alinhamento, Bolsonaro retirou da vice-liderança do governo no Congresso uma das deputadas que mais o defende na Câmara, Bia Kicis (PSL-DF). Ela perdeu o cargo por ter sido uma das sete parlamentares que votaram contra o Fundeb (fundo que financia a educação básica), contrariando a orientação do governo que decidiu apoiar a proposta depois de fracassar na tentativa de fazer alterações profundas no texto.

O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), hoje um dos vice-líderes do governo no Congresso Nacional, é o principal cotado para o lugar de Vitor Hugo. A ideia de alguns aliados é de que o atual líder assuma um cargo no Executivo, como recompensa pelos serviços prestados. A solução chegou a ser cogitada quando o cargo de ministro da Educação estava vago, mas não foi adiante e o presidente indicou Milton Ribeiro para o MEC.

Bolsonaro tem simpatia por Vitor Hugo e elogiou , em suas redes sociais, sua atuação no debate do Fundeb. Ontem à noite o deputado foi recebido no Palácio da Alvorada e acompanhou a live feita pelo presidente.

— Agora há pouco fiquei sabendo que ele (Vitor Hugo) tinha sido demitido da liderança. É isso mesmo, major? Veio aqui me cobrar alguma coisa? Semana passada demitiram o Salles, demitiram o Pazuello — disse Bolsonaro, na live.

Apesar de o movimento para a troca na liderança contar com a simpatia de ministros palacianos e do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, o nome de Barros não agrada o líder do PP, Arthur Lira (AL), espécie de líder informal do governo nos últimos meses. Os dois pertencem a alas distintas do partido, têm um histórico de rivalidade e não costumam trabalhar juntos.

Ricardo Barros, que também é citado como um possível substituto de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, já foi líder do governo Fernando Henrique e vice-líder de Lula e Dilma Rousseff, além de ministro de Michel Temer.

Lira já comunicou ao governo sua oposição a Barros. Deputados próximos a ele afirmam que haveria um problema adicional em nomear um deputado do PP no posto. Lira teme responder diretamente por eventuais derrotas do governo se o indicado pelo presidente para a liderança for de seu partido.

O ideal, para os aliados de Lira, seria também que o nome não servisse para potencializar o capital político de um partido rival à Presidência da Câmara, já que Lira é candidato. Há preocupação com Marcos Pereira (Republicanos-SP), vice-presidente da Casa, que já manifestou seu interesse na disputa.

A pressão sobre Vitor Hugo se dá por conta do resultado da votação do Fundeb nesta semana, em que o governo teve dificuldade de negociar e não conseguiu emplacar propostas importantes para o ministro da Economia, Paulo Guedes, como a destinação de parte de recursos para o programa de transferência de renda que pretende criar. Guedes, inclusive, vem criticando a articulação política e inclusive reclamou que a negociação com o centrão ainda não trouxe resultados objetivos.

Vitor Hugo foi criticado, especialmente, por manter uma orientação contra previsão, no texto do Fundeb, de adoção do custo aluno qualidade (CAQ), medida de referência para o padrão mínimo de qualidade do ensino que deve ser garantido pela União. Como a derrota já era prevista, manter posição serviu só para expor a minoria, que votou como governo.

Na votação do mérito da proposta, sete deputados bolsonaristas foram contrários, apesar de essa não ser a orientação do governo. Parte do grupo, Bia Kicis nega que a perda do posto de vice-líder tenha relação com o caso. Amigos da parlamentar reclamaram dela ter sido informada pela imprensa sobre a saída do cargo.

O Globo