Cidade dos EUA sofre com aquecimento global

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Foto: Reprodução/ Veja

Uma das metrópoles que mais crescem nos Estados Unidos, Phoenix, no Arizona, é também a que mais sofre com o aquecimento global. Graças a sua localização no deserto de Sonora, a cidade de 1,6 milhão de habitantes é famosa no país por ostentar as maiores temperaturas. Mas nesse verão do Hemisfério Norte tem enfrentado uma onda de calor sem precedentes, com termômetros cravando 44ºC, recorde histórico.

Longe de ser uma exceção, o calor escorchante é parte de uma escalada nos termômetros. Em 2019, Phoenix enfrentou 103 dias com temperaturas acima de 38ºC. Só no ano passado, todo esse calor excessivo provocou ao menos 197 mortes. A piora é comprovada também quando se analisa o longo prazo. Desde 1895, Phoenix esquentou 2ºC.

Uma prova inequívoca, dizem cientistas, de que as mudanças climáticas colocam em risco o futuro da cidade. De acordo com estudo feito pela revista científica PLOS One, Phoenix deverá ter cinco meses por ano de temperaturas perigosas à vida humana, isto é, acima dos 40ºC. E terá clima pior que o de Bagdá, no Iraque. O verão será mais extremo, longo e seco.

Nessas condições, alerta o estudo, há risco de colapso da infraestrutura de água e eletricidade. O sistema de canais que atravessam o deserto para abastecer a cidade, e já enfrenta dificuldades para manter-se estável, deve colapsar. “Em algum momento a infraestrutura atingirá o limite”, diz Susan Clark, professora de sustentabilidade urbana da Universidade de Buffalo.

O cenário é mesmo preocupante. O governo do Arizona calcula que sejam necessários 500 milhões de dólares em investimentos para garantir o suprimento de água nas próximas décadas. Se nada for feito, dizem as autoridades, as torneiras podem ficar secas até 2024.

Segundo Susan, nessas condições um simples blecaute durante uma onda de calor pode ter consequências catastróficas. “Sem ar condicionado e água, quanto tempo seus moradores aguentariam?”

O calor é ainda pior nos bairros pobres, onde se concentram negros e latinos. Isso porque há menos árvores e as casas são mais antigas, feitas de concreto, material que absorve calor. Como resultado, entre bairros ricos e pobres há uma diferença média de 6ºC. Isso e traduz numa estatística desastrosa: no bairro negro de Edison-Eastlake, a média de mortes por excesso de calor é 20 vezes mais elevada na comparação com o restante do município.

Agora, Phoenix corre contra o tempo para se tornar a primeira metrópole americana adaptada ao aquecimento global. Entre as medidas emergenciais já em andamento está a pintura do asfalto de branco, o que, garantem as autoridades, aumenta a reflexão do sol em 70%. Ao menos 60 quilômetros de ruas já foram cobertas de tinta.

A cidade também iniciou um ambicioso plano para que um quarto de sua área tenha o sombreamento de árvores. Hoje, o percentual está abaixo dos 10%. E vem criando o que chama de “corredores refrescantes”. O projeto garantirá que nenhum morador fique a mais de cinco minutos a pé da sombra de árvores e do acesso à água fresca. Além disso, empreende uma reforma milionária de casas populares, as mais despreparadas para o calor, com a inclusão de energia solar, teto verde e paredes que refletem os raios de sol.

Longe de ser exceção na urgência climática que se impõe, Phoenix mostra que é hora de levar o aquecimento global a sério.

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