Delator de Serra reitera acusações

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Foto: Reprodução / Fiesp

O fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, admitiu em depoimento à Polícia Federal que mantinha relação próxima com o senador José Serra (PSDB-SP) e disse que o tucano lhe solicitou “ajuda financeira” em sua campanha ao Senado em 2014. Seripieri Filho foi preso temporariamente pela PF na terça-feira sob suspeita de ter cometido crimes no repasse de R$ 5 milhões em caixa dois para a campanha de Serra, caso investigado na Operação Paralelo 23.

Júnior, como o empresário é conhecido, confirmou à PF que encaminhou o pleito de Serra a Elon Gomes de Almeida, então diretor-presidente de uma empresa do grupo Qualicorp e seu sócio em empreendimentos imobiliários. Elon assinou um acordo de delação premiada com a PF e o Ministério Público e revelou que os repasses a Serra foram feitos via caixa dois, por meio de contratos fictícios com empresas que abasteceriam a campanha de Serra.

Júnior fundou a Qualicorp, gigante do setor de planos de saúde, em 1997 e comandou a empresa por diversos períodos. Atualmente, ele detém cerca de 2% das ações, sem poder na administração da companhia. Também é acionista da QSaúde, operadora de plano de saúde. Apesar de Elon ter feito delação, Júnior não aderiu ao acordo e acabou sendo preso na investigação.

Segundo o depoimento de Júnior, prestado na quarta-feira, ele conheceu Serra entre os anos de 2010 e 2011. “Posteriormente a partir do ano de 2012 passou a ter uma convivência social maior com ele”, disse. “Chegou a frequentar a residência do investigado (Serra)”, completou o empresário. Júnior também confirmou que Serra esteve em sua festa de casamento em 2014.

“No ano de 2014, José Serra o procurou solicitando ajuda financeira para campanha ao Senado Federal. Que disse a ele que não faria a doação porque a companhia Qualicorp não permitia e também pelo fato de estar em litígio decorrente de seu divórcio”, relatou o empresário. Segundo seu depoimento, Júnior encaminhou Serra a Elon para que acertasse a doação. “Como não queria ficar mal com o então candidato, disse a ele que o apresentaria seu sócio chamado Elon Gomes de Almeida, mas não se recorda como foi que o apresentou”, afirmou.

“Então disse ao Elon que José Serra o procuraria para obter doações eleitorais, também disse a ele que se fosse do interesse dele que ele então fizesse doação a José Serra”, afirmou Júnior. Em seu depoimento, ele afirmou que não especificou a Elon um valor de doação e que só soube posteriormente que essa doação foi efetivada.

Júnior também relatou que foi procurado, em 2014, por um emissário do então candidato à Presidência do PSDB Aécio Neves (MG) pedindo doações eleitorais, mas que não realizou os repasses. O empresário foi questionado pela PF sobre seu relacionamento com o deputado federal tucano e confirmou sua participação em eventos do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), associação da qual o governador de São Paulo João Doria (PSDB) é fundador. Doria não foi citado no depoimento.

“Conheceu Aécio Neves nos eventos do Lide, mas não teve contatos sociais com ele fora desses eventos. Que na campanha à Presidência de 2014, se recorda de ter sido procurado por um empresário, dono de uma rede de academias, que se dizia estar na campanha de Aécio Neves, mas se recorda que o assunto foi encerrado brevemente, não se recordando se o encaminhou para Elon, como fez com a questão de José Serra”, afirmou José Seripieri Filho.

Júnior é considerado por investigadores do caso como um possível homem-bomba da Operação Lava-Jato, por suas relações amplas no mundo político, passando por autoridades do PT, PSDB e outros partidos.

Procurada na tarde desta quinta-feira para comentar sobre o depoimento de José Seripieri Filho, a defesa de Serra não se manifestou. A assessoria de Aécio Neves também não se manifestou. Em nota divulgada na terça-feira, Serra afirmou que “jamais recebeu vantagens indevidas” e criticou a “espetacularização” da investigação.

“O senador José Serra foi surpreendido esta manhã com nova operação de busca e apreensão em seus endereços, dois dos quais já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela Polícia Federal. A decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos até então desconhecidos pelo senador e sua defesa, em inquérito no qual, ressalte-se, o senador jamais foi ouvido. José Serra lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país, reafirma que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos. Importante reforçar que todas as contas de sua campanha, sempre a cargo do partido, foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. Serra mantém sua confiança no Poder Judiciário e espera que esse caso seja esclarecido da melhor forma possível, para evitar que prosperem acusações falsas que atinjam sua honra”, afirmou na nota.

O Globo