Igreja Católica confronta Bolsonaro

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Foto: Jorge Ribeiro/cancaonova.com

Depois dos investidores internacionais, dos CEOs de empresas nacionais e estrangeiras com interesses no Brasil, dos ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, e dos três maiores bancos privados do país, a Igreja Católica faz novo movimento em defesa da Amazônia e das populações que vivem na região.

O movimento católico exibe dois flancos distintos. Em um deles está a defesa da Amazônia diante das fragilidades expostas pelas pandemia e pela crise socioambiental, agravada pelo aumento do desmatamento.

Trata-se de iniciativa de organizações eclesiais, pesquisadores e artistas estruturada pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Tem apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) além das organizações Mídia Ninja e Movimento Humanos Direitos. Reúne mais de 500 bispos no Brasil.

A outra iniciativa é um documento de caráter mais amplo e contundente, assinado por 152 bispos e arcebispos, e sem o aval da CNBB. Os signatários fazem fortes críticas ao governo Jair Bolsonaro.

“Não temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer natureza”, avisam os religiosos. “O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história”, dizem, referendo-se à pandemia, ao colapso da economia e “à tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República.”

A “Carta ao Povo de Deus” teve trechos divulgados pela “Folha de S.Paulo” no domingo. Diz que “todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador”. Denuncia os “discursos anticientíficos” em torno à pandemia e a “incapacidade e inabilidade do governo em enfrentar estas crises”.

Os termos da Carta são incisivos: “O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece.” Há uma minuciosa lista das atitudes do governo na saúde, educação, ambiente e políticas públicas. Faz um chamado: “Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam”.

Foi um apelo similar feito por Dom Erwin Krautler, bispo emérito da Prelazia do Xingu e vice-presidente da Repam Brasil, no lançamento da campanha “Amazoniza-te”, ontem, em live no canal da CNBB no YouTube. “Sensibiliza-te, toma consciência, acorda antes que seja tarde demais”.

O presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, lembrou que a campanha “é um convite, uma convocação e uma oportunidade para viver em solidariedade com a floresta e com os povos da Amazônia”. Disse que o conceito remete ao aprendizado. “Amazoniza-te é uma escola para nós. Temos que aprender a respeitar culturas diferentes e a preservar o ambiente”. A campanha durará três meses, terá ações como repensar o consumo ou a relação homem e natureza, e tem um “hotsite”, explica o padre Dario Bossi, missionário comboniano e membro da Repam. A ideia é chamar a atenção da opinião pública brasileira e internacional “sobre o perigo ao qual está exposta a vida na Amazônia”, diz nota à imprensa.

A deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), deu os números mais recentes de índios contaminados pelo coronavírus segundo a entidade indígena Apib – 18.854 infectados e 581 mortos entre 145 povos, enquanto os dados oficiais apontam 256 mortos.

A campanha “Amazoniza-te” está estruturada em três eixos. O primeiro chama a atenção à vulnerabilidade dos povos indígenas e das comunidades tradicionais à contaminação pelo novo coronavírus. O segundo quer conscientizar a comunidade nacional e internacional para a “acelerada destruição do bioma” pelo “aumento descontrolado” do desmatamento, das queimadas, da invasão de territórios indígenas e das comunidades tradicionais pela grilagem, mineração, garimpo, pecuária e plantio de monoculturas. O último eixo cita a “violação sistemática da legislação de proteção ambiental e o desmonte dos órgãos públicos”.

Valor Econômico