Lava Jato diz que Aras quer prejudicar Moro

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FOTO: REUTERS/Adriano Machado

A força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba tem feito uma leitura política dos últimos conflitos com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na avaliação do grupo, a atuação do procurador-geral da República, Augusto Aras, tem como pano de fundo as eleições de 2022 e uma tentativa de prejudicar o ex-ministro Sergio Moro em uma eventual disputa pela Presidência.

Nesse contexto, estaria em curso um plano para destruir o legado da Operação Lava-Jato, da qual Moro foi juiz e é símbolo. No futuro, essa lenta asfixia da força-tarefa sem causar uma grande reação na opinião pública, poderia beneficiar o presidente Jair Bolsonaro e sua provável candidatura à reeleição.

Moro deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública em abril, acusando o presidente de tentar interferir em investigações da Polícia Federal (PF) para beneficiar parentes e amigos. Desde então, Moro evita falar em 2022, mas seu nome é apontado com um forte candidato para a eleição.

Reservadamente, o grupo do Paraná cita três movimentos em curso que comprovariam o uso político da PGR e o seu objetivo de beneficiar eleitoralmente Bolsonaro.

Um deles é a tratativa para retomar as negociações da delação premiada de Rodrigo Tacla Duran, que poderia atingir Moro. Tacla Duran acusa o advogado paranaense Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do ex-ministro, de cobrar propina para não ser preso pela Lava-Jato em 2016.

Nas palavras de um procurador, a iniciativa de desenterrar esse assunto pode ter como objetivo a realização de uma “busca e apreensão desmoralizante” contra Moro, para manchar a sua imagem de símbolo ao combate à corrupção.

Outro movimento apontado foi a visita que a subprocuradora Lindôra Araújo fez a Curitiba no fim de junho, que culminou na decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, em dar acesso à PGR aos dados de todas as investigações realizadas pelas forças-tarefas locais da Lava-Jato.

Para o grupo, caso Lindôra, que coordena a Lava-Jato na PGR, tivesse alguma suspeita em relação aos procedimentos adotados no Paraná, ela deveria acionar a corregedoria do órgão para que fosse aberto um procedimento para apurar as supostas irregularidades.

Após a decisão de Toffoli, a força-tarefa teme que Aras possa usar os dados que serão repassados – mais de 100 terabytes de informações – contra os procuradores, para questionar as investigações realizadas e colocar em xeque o legado da Lava-Jato.

Em outras palavras, o grupo vê a tentativa de um “outro Intercept”, em a referência ao site que publicou no ano passado conversas hackeadas dos procuradores e de Moro e questionou a imparcialidade dos investigadores.

Por fim, a força-tarefa também vê com ressalvas a ideia de Aras de criar uma Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Unac), para substituir a Lava-Jato e reunir os integrantes das forças-tarefas de Curitiba, Rio e São Paulo, além dos procuradores que atuam na Greenfield, em Brasília.

Segundo um procurador que esteve com Lindôra no dia da visita a Curitiba, ela teria deixado claro que pretende acabar com a “marca Lava-Jato”.

No início de mês, ao rejeitar a prorrogação do empréstimo de dois procuradores com dedicação exclusiva para trabalhar na Greenfield, a PGR afirmou que modelo de forças-tarefas aponta indícios de “esgotamento” e que era “incompatível” com a instituição.

Agora, os procuradores de Curitiba temem que Aras não renove a autorização para a atuação do grupo, que vence em setembro, e dissolva a força-tarefa

Valor Econômico