Partidos de esquerda fazem ofensiva em Florianópolis

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Foto: Reprodução

Enquanto lideranças nacionais de esquerda são cobradas pelo eleitorado para botar de pé uma frente partidária contra Jair Bolsonaro, Florianópolis, capital de um estado considerado reduto bolsonarista, consolidou sua própria coalizão de oposição. Oito partidos se juntaram por uma candidatura única para as eleições municipais, e agora querem servir como experiência a ser replicada nas eleições presidenciais de 2022.

A união Floripa Pra Frente, composta por PCB, UP, PCdoB, PSOL, PT, PDT, PSB e Rede, nasceu em 2018 para apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro. Haddad perdeu nacionalmente e no Estado, mas foi melhor na capital (35,14% dos votos) do que no interior (24,08%).

Desde então, os partidos de esquerda têm mantido reuniões frequentes a fim de manter a unidade. Nos próximos dias, a coalizão vai definir quem será o candidato do grupo nas eleições municipais.

O mais cotado para encabeçar a chapa é Elson Pereira, do PSOL, que concorreu à Prefeitura nas duas últimas eleições. Em 2012, Elson ficou com 14,42% dos votos e amealhou o quarto lugar. Em 2016, somou 20,60% dos votos e chegou em terceiro.

Para Elson, a frente só foi possível porque os dirigentes locais decidiram “não olhar para o retrovisor” e deixar de lado projetos individuais e rusgas históricas.

“Todos os partidos envolvidos (na frente) em algum momento da história tiveram algum problema eleitoral entre si, de discurso ou frente a algum elemento da conjuntura. Se nós fôssemos primeiro tentar resolver esses problemas para depois tentar fazer uma frente, nós não teríamos conseguido (criar a frente). A história recente está prejudicando muito essas alianças em nível nacional”, afirma Elson.

Outros três pré-candidatos estão na disputa pela cabeça de chapa: Janaina Deitos (PCdoB) e os vereadores Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT). Disputa, aliás, é um termo insatisfatório para alguns.

“Nós não estamos disputando. Temos uma relação fraterna. Se não chegarmos a um acordo, vamos fazer uma pesquisa (de opinião). O PT tem seus critérios para justificar por que nós devemos ter a cabeça de chapa. Mas se for o professor Elson, tudo bem, vamos tentar a vice”, diz Lino Peres.

O vereador petista, no entanto, afirma ter muita visibilidade na cidade e que não sabe se Elson manterá o bom desempenho que teve em 2016. Ele defende o PT e se coloca em jogo. “Se basear na eleição anterior, ele (Elson) ficou muito conhecido, mas não sei se repete. Depois da eleição, ele viajou para a França, então ele não teve atuação aqui. Eu mantive. E o PT foi muito atacado nas eleições passadas, mas agora vem recuperando a imagem”, declara.

“A gente está buscando o que é consenso, e o que é divergência a gente trata em reuniões separadas. Tem que ser feito esse esforço. Precisamos nos despir de vaidades, de projetos pessoais. O projeto precisa ser maior que todo mundo. É a democracia que está em jogo”, complementa Lela.

O fato de Santa Catarina ser um polo conservador pode ter ajudado a criar um sentimento de “sobrevivência” nesses partidos de esquerda, de acordo com dirigentes, favorável à composição de forças. Em Santa Catarina, Bolsonaro teve a segunda maior taxa de votação no segundo turno de 2018, com 75,9% dos votos. Só perde para o Acre, com 77,2%.

“A primeira coisa que nos uniu foi o antibolsonarismo. Depois veio a avaliação de que sempre fomos governados pela direita, apesar de termos tradicionalmente 30%, 35% dos votos. Então nós somos importantes, mas nós temos saído taticamente de maneira errada, sempre divididos. E nossa divisão tem sempre levado a derrotas e a não possibilidade de chegar ao segundo turno”, diz Elson Pereira.

Para Lela, é a oportunidade de Florianópolis repetir a “Novembrada”. Em 30 de novembro de 1979, o presidente João Baptista Figueiredo chegou a Santa Catarina para uma agenda oficial e foi hostilizado por uma manifestação popular. Do protesto, sete participantes saíram presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

“Pode ser que Bolsonaro não esteja mais ditando regra em 2022, mas o conservadorismo ainda estará forte. Se a gente conseguir dar esse recado aqui de união, teremos a chance de fazer história de novo”, afirma o vereador.

Os dirigentes com quem O GLOBO conversou se mostraram confiantes de que Florianópolis possa servir de exemplo aos partidos para as eleições de 2022.

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