A advogada que encrencou Witzel

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Foto: André Gomes de Melo

De advogada discreta a um dos pivôs do mais novo escândalo de corrupção no governo do Rio de Janeiro. Assim é a trajetória da primeira-dama do estado, Helena Witzel, conforme apontam investigações da Lava-Jato. Segundo procuradores da força-tarefa, o escritório de advocacia dela era usado para lavar dinheiro do esquema de corrupção liderado pelo governador Wilson Witzel (PSC), afastado do cargo, nesta sexta-feira (28/8), por ordem do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Helena Witzel foi um dos alvos da operação de busca e apreensão realizada dentro do inquérito que investiga irregularidades em contratos firmados pelo governo estadual para ações de combate à pandemia.

Segundo as investigações, a atuação de Helena como advogada é recente. Após a posse do marido como governador, em janeiro de 2019, os casos corriqueiros, no escritório de advocacia, deram lugar a contratos vultosos, de novos clientes, entre os quais empresas fornecedoras do governo estadual. De acordo com procuradores, o local passou a “operacionalizar a prática de corrupção e posterior lavagem de capitais”.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que as propinas pagas no esquema eram disfarçadas em contratos assinados pelas empresas com o escritório de advocacia. Dessa forma, segundo as investigações, o governador foi o verdadeiro destinatário de R$ 554 mil, relativos a quatro contratos e pagos entre 13 de agosto de 2019 e maio de 2020 — cerca de R$ 15 mil mensais de cada uma das empresas. A força-tarefa identificou, pelo menos, um repasse do escritório para Wilson Witzel, no valor de R$ 74 mil.

As investigações apontam que, entre os pagamentos mensais recebidos pelo escritório de Helena, estão R$ 15 mil da DPAD Serviços Diagnósticos LTDA., pagos desde agosto do ano passado. O total repassado foi de R$ 105 mil. A empresa tem contrato com o governo fluminense.

Um e-mail escrito por Witzel, apreendido pela PGR, orienta os interessados a redigir o contrato com o escritório de Helena. Chamou também a atenção dos procuradores a atuação da primeira-dama em um processo de execução fiscal da família do médico Gothardo Lopes Netto, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual. A família é dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (Hinja), maior unidade de saúde privada do município.

O processo, que tramita na Justiça Federal de Volta Redonda, já tinha como advogado Lucas Tristão, ligado ao esquema de corrupção — segundo as investigações —, porém, ao longo da tramitação do caso, Helena entrou com uma petição para informar que passaria a defender o hospital. Conforme as apurações, a partir daí, o escritório passou a receber os R$ 15 mil mensais apenas por esse serviço.

Veja os montantes recebidos pelo escritório de advocacia de
Helena Witzel, segundo a PGR

ValorProcedência
R$ 280 milHinja
R$ 112.620,00DPAD Serviços Diagnósticos LTDA.
R$ 59.385,00Cooperativa Central de Trabalho (Cootrab)
R$ 102.231,50Quali Clínicas Gestão e Serviços de Saúde LTDA.
Total: R$ 554.236,50

Obs.: o recebimento dos valores foi apontado em relatório do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)

André Gomes de Melo

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Correio Braziliense