Advogado de Bolsonaro trouxe R$ 2 mi do exterior
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Um relatório Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtido pelo GLOBO, aponta que o advogado Frederick Wassef, que começou a atuar na representação da família Bolsonaro no fim de 2018, enviou de uma conta dos EUA US$ 2 milhões no ano de 2016 para suas contas pessoais no Brasil. O documento foi enviado para o Ministério Público Federal (MPF) no Rio, Ministério Público do Rio (MP-RJ) e para a Polícia Federal em 15 de julho.
O relatório do Coaf afirma que Wassef foi “objeto de comunicações de operações suspeitas” e depois descreve que, entre julho de 2015 e junho de 2020, “os créditos no período totalizaram R$ 14 milhões” em duas contas correntes das quais ele é titular. Em seguida, o documento cita que os créditos no período foram “oriundos principalmente de Bruna Boner Leo Silva e de duas operações de câmbio (ingresso de recursos) oriundos do Wells Fargo Bank N.A nos EUA no valor de US$ 1.000.000,00 cada realizado entre 26/09/2016 e 23/11/2016”.
O relatório cita ainda que “de acordo com dados das informações de operação de câmbio do Bacen (…) o remetente foi o próprio Frederick Wassef”. O Coaf não menciona se a conta no exterior foi declarada ou não.
Procurado, o advogado disse que suas “contas bancárias e pagamentos recebidos são legais e declarados à Receita Federal e todos impostos foram pagos”. Além disso, ele informou que “jamais existiu qualquer movimentação financeira atípica” em sua conta. Wassef não respondeu o motivo das transações.
Como O GLOBO revelou esta semana, o documento aponta ainda que, ao todo, desde agosto de 2018, Bruna Boner Leo Silva, ex-enteada de Wassef, enviou valores para a conta dele que “totalizaram R$ 3.259.822,47 realizados por meio de 19 transações” até 2020.
No período em que já atuava nos bastidores como advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), de 5 de dezembro de 2018 até 11 de fevereiro de 2020, Wassef recebeu de Bruna um total de R$ 2.374.688,88. Foram oito transferências, quase sempre no início do mês, de R$ 109,3 mil e, duas maiores em fevereiro deste ano, de mais R$ 1,5 milhão.
No relatório, o Coaf registra ainda que “os dois créditos com total de R$ 1,5 milhão, realizados nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2020, informados acima foram amparados após o recebimento de recursos da Globalweb Outsourcing do Brasil Ltda, empresa da qual Bruna Boner Leo Silva é sócia”. Bruna é filha de Maria Cristina Boner Leo, ex-mulher de Wassef, além de fundadora e presidente do Conselho de Administração da Globalweb.
Além disso, nas contas do escritório de advocacia de Frederick Wassef, também foram registrados um pagamento de R$ 1,04 milhão da empresa Globalweb e outro para a empresa Maisdoisx Tecnologia em Dobro, que pertence à holding da Globalweb, no total de R$ 1,070 milhão no período que o relatório do Coaf abrange, de 2015 a 2020.
O relatório aponta ainda que a conta do escritório foi abastecida em R$ 2,1 milhões pela Computsoftware Informatica, empresa que vendeu uma Land Rover preta modelo 2009/2010 para o presidente Jair Bolsonaro em 2015. A empresa Computsoftware também teve Maria Cristina Boner como sócia até pouco tempo atrás.
Wassef alegou ao GLOBO que os repasses de Bruna foram o pagamento de um empréstimo. Já os valores recebidos por seu escritório de advocacia seriam referentes também a pagamentos de honorários e empréstimos. Bruna e Maria Cristina Boner disseram que não vão comentar transações privadas. A Globalweb informou, por nota, que Wassef atuou para a empresa há cinco anos.
Próximo da família Bolsonaro ao menos desde 2014, Wassef entrou na mira do Coaf após a operação “Anjo” do Ministério Público do Rio que prendeu o ex-assessor Fabrício Queiroz em uma casa pertencente ao advogado em Atibaia, no interior de São Paulo. Wassef defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na investigação do esquema de “rachadinha” e também se apresentava como advogado de Jair Bolsonaro.
O GLOBO revelou também que Frederick Wassef fez um pagamento de R$ 10,2 mil para o urologista Wladimir Alfer que atende no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Alfer foi o primeiro médico a atender Fabrício Queiroz na unidade, em dezembro de 2018, quando ele iniciou uma série de exames para o tratamento de câncer no intestino. Wassef disse que o pagamento ocorreu em um atendimento para ele em setembro do ano passado
Leia a íntegra da nota de Frederick Wassef:
“Todas as minhas contas bancárias e pagamentos recebidos são legais e declarados à Receita Federal e todos impostos foram pagos. Jamais existiu qualquer movimentação financeira atípica em minha conta. Sou vítima de quebra de sigilo bancário e fiscal ilegal e criminoso sem autorização judicial. Membros do Coaf devassaram minhas contas e sigilo bancário a pedido informal, secreto e ilegal de promotores cariocas que querem investigar o caso Queiroz por via transversa e ilegal. Vão se decepcionar pois não vão encontrar nem uma irregularidade em minha vida. Fui aprovado pelo compliance de todos os bancos e clientes. Esta exposição criminosa de minha vida privada e sigilo bancário será meu compliance público e salvo conduto pois não irão encontrar nada de errado. Vou denunciar estes crimes na corregedoria do Coas, Polícia Federal, CNMP. O Coaf enviou tudo para o Rio de Janeiro pois lá já está tudo orquestrado com autoridades cariocas que vão fazer um trabalho direcionado e parcial contra mim e sob ordens do governo e políticos. Esta fraude e armação e para tentar atingir a família Bolsonaro. E uma guerra política suja e já estou esperando todas as maldades e ilegalidades. E também estão vazando criminosamente a conta gotas meu sigilo bancário para o Globo e imprensa para fazerem matérias diárias contra mim e com distorção de informações além de dados omitidos para induzir em erro a todos. Não sou do Rio e nao tenho nada a ver com o Rio. Deveriam ter mandado as informações para meu estado de origem e não fizeram de propósito pois no Rio está tudo armado”.