Bolsonaro busca um vice “terrivelmente evangélico”

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Foto: Andressa Anholete/Getty Images

O presidente Jair Bolsonaro admitiu a aliados que pode ter um evangélico como vice na cédula de 2022. Ele tem no segmento religioso um dos importantes fiadores do seu governo, e que foram sustentação na sua campanha eleitoral. Alguns líderes chegaram a ceder os templos para verdadeiros comícios. Os três ministros-pastores de Estado, que comandam as áreas de Direitos Humanos, Educação e Justiça, mostram a gratidão do presidente. Mas Bolsonaro quer ampliar esta simbiose.

Mesmo vestido de “bolsonarinho” paz e amor, contido em suas declarações desde a prisão do ex-faz tudo da família Fabrício Queiroz, o presidente vai apostar pesado na agenda conservadora como arma para se reeleger. Segundo aliados do governo, a opção mais plausível hoje é a de Bolsonaro encampar de novo a narrativa da polarização através da agenda dos costumes, o que dá preferência a um pastor na chapa da próxima eleição. Esse movimento tiraria da corrida o vice-presidente Hamilton Mourão, com quem a relação com Bolsonaro tem tido mais baixos do que altos nesses 20 meses de governo.

Os acenos ao segmento evangélico não são de hoje e vão além da distribuição de cargos no primeiro escalão do governo. Além de sempre enfatizar que a primeira-dama professa a fé, o presidente, que se diz católico, já prometeu uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) para um ministro “terrivelmente evangélico”, como o pastor André Mendonça, do Ministério da Justiça.

Acontece que, no xadrez de Brasília, outros candidatos têm ganhado preferência para a primeira vaga a ser aberta em novembro, quando o decano Celso de Mello vai se aposentar. É o caso do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, responsável por conceder a prisão domiciliar para Queiroz durante o recesso da Justiça. De acordo com os aliados do governo, esse adiamento da nomeação de um ministro evangélico para o STF é outro fator que amplia a possibilidade de um pastor como vice em 2022.

Seria uma forma de compensar a perda do posto na mais alta corte do país. Para se ter uma ideia, André Mendonça teria perdido força até para a segunda vaga, a ser aberta no ano que vem, por conta da produção de dossiês pelo Ministério da Justiça contra adversários políticos – caso revelado pelo jornalista Rubens Valente, do UOL.

Na política, tudo muda muito rapidamente. Como ensinou o mineiro Magalhães Pinto, é como nuvem. “Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Mas os ventos turbulentos recentes contra o governo, quando o presidente chegou a ficar na iminência de um processo de impeachment, levaram a esse quadro, no qual os evangélicos e o centrão serão cada vez mais usados como muleta.

Um outro exemplo dos afagos do presidente às igrejas foi o pedido para que a reforma tributária, já em tramitação no Congresso, mantenha os benefícios fiscais para os templos religiosos. A substituição do PIS e da Cofins pela Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS) não afetará a isenção às igrejas. Ou seja, as denominações continuarão com a vantagem financeira. Internamente no governo, a ideia é tentar, se possível, ampliar a ajuda aos pastores no meio da tramitação da reforma.

É o mode reeleição saindo da cabeça de Bolsonaro, sempre obcecado com o assunto, e se espalhando pelo governo. Tudo isso pensando em um – e somente um – objetivo: manter a fidelidade dos evangélicos, que hoje representam quase 30% do eleitorado no Brasil. Segundo o presidente, 2022 é logo ali.

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