Bolsonaro está dando o “tratamento Moro” a Guedes
A fala, em tom de pito na equipe econômica, de Jair Bolsonaro hoje em Ipatinga (MG), quando disse que o Renda Brasil do jeito que foi apresentado a ele por Paulo Guedes não será enviado ao Congresso, lembra algumas declarações públicas do presidente sobre o então superministro Sergio Moro.
A partir do meio do ano passado, e cada vez com maior frequência e intensidade, Bolsonaro passou a fustigar publicamente Moro, a quem um dia já até atribuira sua própria eleição para presidente (“Se a missão dele não tivesse sido bem cumprida, eu também não estaria aqui”).
Em agosto de 2019, no cercadinho do Alvorada, mandou essa, sobre seu descontentamento com a PF de Moro:
— Quem manda sou eu… deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos. Mas quem manda sou eu”.
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Hoje, mandou brasa no Renda Brasil modelado pela equipe de Guedes:
— Ontem, discutimos a possível proposta do Renda Brasil e falei (que) está suspensa. A proposta como apareceu para mim não será enviada ao parlamento. Não posso tirar de pobre para dar a paupérrimos.
O que Bolsonaro fez hoje foi expor Paulo Guedes. Algo que poderia ficar apenas entre os dois, ou seja, uma discordância do presidente em relação a um projeto, foi dito num palanque.
Como Bolsonaro sabe exatamente a força de uma reclamação pública, sua intenção foi passar um recado — o de quem manda é ele, como já dissera a Moro.
Mas acabou passando outros. Primeiro, o de que não há mais superministros no governo. E também que caducou o “eu não entendo de economia, quem decide tudo isso aí é o posto Ipiranga”. Bolsonaro deixou explícito para Guedes que o jogo agora é outro. E a Guedes resta pegar ou largar.
O Globo