Flávio faz “tour eleitoral” na baixada fluminense

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Foto: Agência O Globo

Eleito com um discurso crítico à política tradicional, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) tem feito, às vésperas da eleição municipal, uma peregrinação pela Baixada Fluminense ao lado de prefeitos que fazem parte do cenário local há anos e que carregam nos currículos, além de investigações, apoio a governos do PT, principal adversário do Palácio do Planalto. A região concentra quatro dos dez municípios com o maior colégio eleitoral do Rio, reduto da família Bolsonaro.

Desde que não conseguiu viabilizar a criação do Aliança pelo Brasil a tempo de participar das disputas municipais, o presidente Jair Bolsonaro tem dito que se manterá alheio às eleições de novembro. O filho mais velho tem sido o rosto da família presidencial ao lado de prefeitos do estado do Rio nos últimos dias. Na semana passada, Flávio participou de inaugurações de obras, bancadas com recursos da União, em Belford Roxo e Duque de Caxias, cidades onde os prefeitos vão concorrer à reeleição em meio a problemas com a Justiça. Na sexta-feira, porém, o presidente deve vir ao Rio para inaugurar uma escola cívico-militar na capital com o prefeito Marcelo Crivella (PRB). É o último dia em que eventos desse tipo estarão permitidos para quem disputará voto em novembro, já que o calendário eleitoral veda, a partir de sábado, a presença de pré-candidatos em inauguração de obras públicas.

Mesmo com a investigação em andamento sobre a suposta prática de “rachadinha” envolvendo seu ex-assessor Fabrício Queiroz, a presença de Flávio foi tratada como sinal de prestígio por prefeitos e também por pré-candidatos bolsonaristas na Baixada, que acompanharam a visita de olho nas eleições municipais.

Em Duque de Caxias, na última sexta-feira, Flávio figurou ao lado do prefeito Washington Reis (MDB), pré-candidato à reeleição, durante a inauguração do Viaduto do Gramacho. Flávio fez parte da articulação, em 2019, para a liberação de um empréstimo de R$ 150 milhões para a obra, via Caixa Econômica Federal. Segundo a colunista Berenice Seara, do “Extra”, o senador também garantiu aos prefeitos da Baixada o aumento do teto do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento Básico (Finisa), da Caixa, para financiar projetos com taxas de juros mais baixas.

— Duque de Caxias depende dessa boa relação com o governo federal. A política tem que funcionar assim, caso contrário, o povo é que perde. Se não tiver a mão humana, nada acontece — afirmou o prefeito de Caxias.

Reis integrou o grupo político dos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão e do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani, todos condenados e presos pela Lava-Jato — Cabral permanece na cadeia. Enquanto era deputado federal, o prefeito de Caxias também fez parte da base de apoio do governo Dilma Rousseff, mas desembarcou junto com o MDB e votou a favor do impeachment da presidente.

Em 2016, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a sete anos de prisão em regime semiaberto por crime ambiental, o que pode enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa e torná-lo inelegível este ano. Em janeiro, a 1ª Vara Criminal de Duque de Caxias aceitou uma denúncia do MP-RJ contra Reis por fraudes imobiliárias que teriam ocorrido em 2014, quando estava sem cargo público. Apesar dos problemas judiciais, Reis disse ter “tranquilidade de vencer todos os processos” e afirmou já estar acostumado ao que chamou de “ladainha em ano eleitoral”.

No último dia 3, acompanhado pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, Flávio discursou na inauguração de trechos de obras de saneamento em Belford Roxo e teceu elogios ao prefeito Waguinho (MDB), outro candidato à reeleição.

Ex-colega de Flávio na Alerj, Waguinho chegou a ter o diploma cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), por irregularidades nos gastos de campanha. Em 2019, ficou afastado do cargo por cerca de dois meses, após o MP-RJ acusá-lo de ser o responsável por desvios de R$ 17 milhões dos cofres públicos.

A obra inaugurada por Flávio em Belford Roxo também faz parte de um convênio com o governo federal, assinado em 2009 no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Flávio atuou na liberação de recursos para as etapas finais da obra ao lado da mulher do prefeito, a deputada federal Daniella do Waguinho (MDB-RJ), a quem o senador se referiu no palanque como “nossa base de apoio no Congresso”. Apesar da proximidade atual com a família Bolsonaro, Waguinho caminhou com o PT na sua eleição em 2016 e terá apoio da sigla novamente neste ano.

“É importante ter bom trânsito e conhecimento em todas as esferas dos governos estadual e federal”, afirmou Waguinho, via assessoria de imprensa.

Um dos integrantes da comitiva de Flávio em Belford Roxo foi o vereador Charlles Batista (Republicanos), da vizinha São João de Meriti. Ele é pré-candidato a prefeito e apoiado pela família Bolsonaro no município. Batista chegou a viajar de helicóptero com Flávio e com o ministro Rogério Marinho.

Outro que busca o apoio do senador na Baixada é o prefeito de Mesquita, Jorge Miranda (PL), também candidato à reeleição. Na ausência de um nome na cidade ligado ao Aliança pelo Brasil, Miranda ensaiou uma aproximação com Flávio nos últimos meses. Na busca pelo voto bolsonarista, deixou o PSDB do governador de São Paulo, João Doria. Na última semana, o prefeito de Mesquita subiu ao palanque com Flávio na inauguração de um programa de segurança no município.

Na agenda de Flávio para os próximos dias, está prevista a inauguração de uma escola cívico-militar no Rocha, Zona Norte do Rio, com Crivella e Bolsonaro. Pré-candidato à reeleição, o prefeito atraiu para o Republicanos o senador e o vereador Carlos Bolsonaro. O evento vai acontecer no limite do prazo: segundo o calendário da Justiça Eleitoral, a partir deste sábado é proibida a participação de pré-candidatos em inaugurações de obras públicas.

O Globo