Guedes acha que gastos públicos não ajudarão o chefe
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/29-07-2020
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reiterou nesta quinta-feira sua posição de que não é o momento de aumentar os gastos públicos. Contrariando a ala do governo que quer um aumento das despesas para aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, projetando sua reeleição, Guedes argumentou, em entrevista à Record News, que o aumento dos gastos públicos levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a uma derrota eleitoral do seu partido, o PT.
— Se gastar mais fosse a chave do sucesso, não tinham perdido a eleição ou sofrido impeachment, alguns anos atrás. Se você foi cavando o buraco fiscal, cavando o buraco fiscal e acabou sofrendo impeachment, economia estagnada, aquilo tudo, como é que gastando mais é que nós vamos sair do buraco? Não é gastando mais — disse Guedes na entrevista.
Guedes reconheceu que há divisões dentro do governo sobre esse tema, fazendo referência à reunião ministerial do dia 22 de abril, quando discutiu com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, um dos que defendem o aumento dos gastos.
— Em um ambiente de encontro de ministro, existem pressões. Tem gente que vira para o presidente e fala: “Presidente, o senhor quer ser reeleito? Vamos gastar mais”. Eu tenho que dizer assim: “Presidente, o senhor quer ser reeleito? Foi gastando menos que nós derrubamos juros, fizemos a reforma da Previdência, que é gastar menos, seguramos agora o salário do funcionalismo, e é isso que vai fazer o Brasil crescer”.
A ala do governo que defende o aumento de gastos ganhou o apoio do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ), que disse, em entrevista ao GLOBO, que Guedes “vai ter que dar um jeito de arrumar mais um dinheirinho” para que a administração federal dê continuidade a ações de infraestrutura.
Guedes ainda disse que a indicação de André Brandão para o Banco do Brasil está acertada, mas que ele ainda precisa definir detalhes da sua saída do HSBC, onde atualmente é diretor de Global Banking e Markets para as Américas. O ministro revelou que a indicação foi feita pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após o pedido de um nome semelhante ao próprio Campos Neto, definido por Guedes como “técnico, apolítico e discreto”. O objetivo, segundo o ministro, é demonstrar que não existe aparelhamento político no banco.
— A indicação foi do meu presidente do Banco Central, que é o Roberto Campos. Eu falei: “Roberto, vamos pegar um jovem, como você, técnico”. Não se metem em política, o cara é trabalhador, focado. É importante que seja, porque tem sempre essa conversa de “ah, porque tem aparelhamento político, o governo está entregando a máquina”. Nada melhor para demonstrar que não existe nada disso.
Guedes disse ter relatado a Bolsonaro que não conhecia Brandão, mas que confia na indicação de Roberto Campos.
— O presidente falou: “mas você não conhece, não?”. Eu falei: “não, não conheço”. “Você confia?” Confio na indicação do Roberto Campos.