Oposição decide enfrentar ditador da Bielorrússia
Foto: Vasily Fedosenko/Reuters
A líder da oposição da Belarus, Svetlana Tikhanovskaya, convocou novos protestos nesta sexta-feira, 14, e pediu uma recontagem da eleição, aumentando a pressão sobre Alexander Lukashenko. Considerado o “último ditador da Europa”, o presidente enfrenta o maior desafio em seus 26 anos no poder, em meio a denúncias de agressões contra manifestantes e possíveis sanções da União Europeia.
A opositora, que se refugiou na Lituânia no início da semana citando preocupações com a segurança de seus filhos, se manifestou pela primeira vez desde terça-feira. Em um vídeo publicado no YouTube, pediu atos “pacíficos” em todo o país.
“Peço a todos os prefeitos que organizem manifestações pacíficas em todas as cidades nos dias 15 e 16 de agosto”, declarou a novata política de 37 anos, cuja candidatura gerou uma onda de fervor na ex-república soviética.
Svetlana considerou a situação “crítica” e instou o governo a “parar a repressão e seguir ao diálogo”. Principal candidata da oposição das eleições de domingo 9, a professora de inglês pediu para apoiadores exigirem investigações oficiais sobre acusações de que Lukashenko teria fraudado a votação.
A candidata afirma que teve apoio de 60% a 70% onde os votos foram contados corretamente, ao invés dos 10% dados pelo Comitê Eleitoral.
“Bielorrussos nunca vão querer viver novamente com as mesmas autoridades”, disse Svetlana. “Vamos defender nossa escolhe. Não fiquem às margens. Nossas vozes precisam ser ouvidas”.
Sem experiência na política, Svetlana começou sua campanha após seu marido, o youtuber Sergei Tikhanovsky, ter sua candidatura barrada em maio pela comissão eleitoral. Além de ser barrado eleitoralmente, o youtuber também está preso desde maio. Ele é acusado pelas autoridades de planejar “distúrbios em massa” junto a outros 33 supostos mercenários russos.
Ao menos dois manifestantes foram mortos e milhares foram detidos em uma violenta repressão nesta semana. À rede BBC, diversas pessoas, incluindo adolescentes, descreveram agressões sofridas por forças do Estado.
“Eles batem ferozmente nas pessoas, com impunidade, e eles prendem qualquer um. Fomos forçados a ficar de pé em um pátio a noite toda. Nós podíamos ouvir mulheres sendo agredidas. Não entendo o motivo de tanta crueldade”, disse um homem à emissora britânica.
Privados de água, comida e sono durante a detenção, torturados com eletricidade e queimados com cigarros, os manifestantes foram trancados em celas para quatro ou seis pessoas, segundo depoimentos à AFP.
“Eles me bateram com força na cabeça (…), minhas costas estão cheias de hematomas por golpes de cassetete”, disse Maxim Dovjenko, de 25 anos, que garantiu que nem mesmo havia participado das manifestações, mas estava no local dos acontecimentos no momento da repressão policial.
A ONG Anistia Internacional afirmou na quinta-feira que tinha conhecimento de casos de manifestantes “nus, espancados e ameaçados de estupro” durante sua prisão.
Em uma declaração na TV estatal, a presidente do Senado, Natalya Kochanova, disse que Lukashenko abriu uma investigação sobre a detenção em massa de manifestantes e que mais de 1.000 foram libertados.
Todos os outros detidos seriam soltos ainda nesta sexta-feira, segundo o vice-ministro do Interior, Alexander Barsukov. Ele negou que prisioneiros tenham sofrido abusos.
Em resposta às denúncias de violência, a União Europeia anunciou a possibilidade de novas sanções sobre a Belarus. Em publicação no Twitter, a chefe-executiva da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse:
“Precisamos de sanções adicionais contra aqueles que violaram valores democráticos ou abusaram dos direitos humanos na Bielorrússia. Estou confiante que a discussão dos ministros das Relações Exteriores da União Europeia hoje irá demonstrar nosso forte compromisso com os direitos do povo da Belarus à democracia e às liberdades fundamentais”.
Lukashenko, que atualmente repercute na mídia pelo seu negacionismo da pandemia da Covid-19, comanda a Belarus desde 1994, quando foram realizadas as primeiras eleições do país, três anos após sua fundação.
Em uma rara desescalada, o governo pediu desculpas pelo uso de força e libertou mais de 2.000 manifestantes que haviam sido detidos, à medida que milhares de pessoas foram às ruas nesta sexta-feira, no sexto dia consecutivo. O chanceler da Bielorrússia, Vladimir Makei, disse em teleconferência com o chanceler suíço que está pronto para “diálogos construtivos e objetivos com partes estrangeiras” sobre assuntos relacionados à eleição, de acordo com a agência de notícias estatal BelTA.
Lukashenko, por sua vez, cita um plano apoiado por potências estrangeiras para desestabilizar a Belarus. Ele afirma que os manifestantes são criminosos e desempregados.