Padre pop desviava doações para enriquecer

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Foto: Reprodução

Criada e presidida pelo padre Robson de Oliveira Pereira, de 46 anos, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) movimentou R$ 1,7 bilhão desde o início da construção de uma suntuosa basílica em Trindade, cidade situada a 23 km de Goiânia que se tornou destino de romaria de peregrinos católicos. A pedra fundamental do mega complexo religioso foi lançada em junho de 2011, mas a obra segue inacabada. Neste período, a construção do templo de padre Robson impulsionou as doações à Afipe.

O cálculo dos gastos na obra da basílica é parte da investigação realizada pelo Ministério Público de Goiás (MP) sobre desvio de dinheiro doado por fiéis. Padre Robson é apontado como líder da organização criminosa que utilizava os recursos obtidos em doações para fins pessoais, como compras de fazendas, apartamentos e até mesmo uma casa de praia na Bahia.

O MP chegou ao valor da movimentação financeira após análise de dados obtidos mediante quebras de sigilos fiscal e bancário autorizadas pela Justiça. De acordo com o MP, as doações aumentaram ano a ano, no período entre 2011 a 2018.

O complexo religioso em construção prevê uma nova basílica, com capacidade para 13 mil pessoas e uma cúpula com 90 metros de altura. A atual comporta 2,5 mil fiéis.

O Novo Santuário do Divino Pai Eterno também terá uma torre com 110 metros de altura e 73 sinos, inclusive o maior do mundo, chamado de Vox Patris. Trata-se de uma peça feita de bronze, fabricada na Polônia, que pesa 55 toneladas e mede 4 metros de altura e 4,5 metros de diâmetro.

Ilustração do projeto de complexo religioso que, além da basílica central, inclui teatro, centro comercial e museu Foto: Divulgação
Ilustração do projeto de complexo religioso que, além da basílica central, inclui teatro, centro comercial e museu Foto: Divulgação
“Estava-se procurando para o Novo Santuário sinos que teriam tamanho necessário. Foi nos apresentado um projeto de sinos cujo peso seria de dez toneladas e mais leves, mas durante a visita que o padre Robson fez na Polônia foi modificado. Surgiu, então, a ideia do maior sino de balanço do mundo, que tornou-se um enorme desafio para nós. Não apenas tecnológico, mas um desafio enquanto empreendimento em sim”, afirmou Piotr Olszewski, responsável pela fabricação do sino, ao site da Afipe.

O novo Santuário será equipado também com um teatro, um museu, um centro comercial e um estacionamento para 30 mil carros e 4 mil ônibus. Todos os anos, cerca de 4 milhões de pessoas vão à Trindade para conhecer a paróquia liderada por Padre Robson.

Na decisão para os mandados de busca e apreensão concedidos nesta semana, a juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, afirmou que “as associações religiosas investigadas sabidamente sobrevivem de doações de fiéis e que, portanto, devem prestar contas públicas da destinação dada às suas arrecadações”.

A magistrada também escreve que são graves os fatos investigados de suposto desvio de doações feitas por fiéis do Divino Pai Eterno à Afipe para a construção da Basílica de Trindade e para custeio de outros projetos de cunho social e religiosos da instituição.

Na noite deste sábado, padre Robson publicou um vídeo em suas redes sociais para se manifestar sobre as investigações do MP.

Na gravação, o pároco diz estar com o “coração sereno” e confiante de que vai esclarecer todas as questões levantadas pelos promotores o mais breve possível.

“Sempre estive e continuo à disposição do Ministério Público. Por isso, esse meu pedido de afastamento vai me permitir colaborar com as apurações da melhor forma e com total transparência para que seja confirmado que toda doação que fazemos ao Pai Eterno – terços rezados, o dinheiro doado, tempo, carinho, trabalho empregado na evangelização – foi toda, repito, toda empregada na própria associação Afipe em favor da evangelização”, afirmou.

O advogado Klaus Marques, que representa a Afipe, justificou o uso das doações na compra de imóveis como uma forma de investimento. “A questão toda era: vou manter todos os recursos que eu recebo dos meus fiéis no banco, com taxa selic de 2% ao ano ou vou fazer aplicações em outros mercados e ter rendimentos maiores?”, disse.

O MP investiga crimes de apropriação indébita, organização criminosa, lavagem ou ocultação de bens e dinheiro. Responsável pela defesa de padre Robson, o advogado Pedro Paulo de Medeiros, alega que não há bens no nome do seu cliente, que todas as aquisições da Afipe permanecem como patrimônio da entidade e nega a existência de qualquer crime.

“Nenhum desses crimes aconteceu. E eu parto da premissa inicial: ninguém se apropriou de dinheiro da associação. E se ninguém se apropriou de dinheiro da associação, que continua no patrimônio da associação, nenhum dos outros crimes que são decorrentes desse primeiro existem. Então se não há apropriação indébita, não há qualquer um dos outros crimes”, afirmou Medeiros.

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