Queiroz confirma reunião com advogado de Flavio

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O subtenente reformado da PM do Rio Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) contou em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que esteve em 2018 com o advogado Christiano Fragoso, indicado pelo empresário Paulo Marinho para atuar na defesa do filho do presidente Jair Bolsonaro em decorrência da investigação sobre as “rachadinhas” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Na transcrição do depoimento, obtida pelo GLOBO, está registrado que o procurador Eduardo Benones perguntou se ele conhecia Christiano Fragoso e Queiroz respondeu “que esteve num escritório no centro do RJ de um advogado chamado Christiano e imagina que seja o próprio”. Ele, porém, não explicou o motivo do encontro.

O depoimento de Queiroz ao MPF foi prestado no âmbito do procedimento que apura o vazamento das informações da Operação Furna da Onça. Durante as investigações que levaram à prisão de deputados estaduais, foi produzido um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que identificou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, além de diversos repasses de oito assessores para ele. Segundo o empresário Paulo Marinho, em relato ao jornal “Folha de S. Paulo”, Fragoso foi indicado por ele para defender Flávio durante uma reunião em sua casa no dia 13 de dezembro de 2018.

O encontro foi pedido por Flávio depois que o escândalo sobre a movimentação se tornou público em 6 de dezembro e ele esteve acompanhado ainda de Victor Granado Alves, advogado e funcionário de seu gabinete à época. Nessa reunião, Marinho afirma que Granado Alves revelou o vazamento de dados da operação por meio de um delegado da PF durante o segundo turno das eleições presidenciais. Por isso, Queiroz e sua filha Nathália teriam sido exonerados dos gabinetes de Flávio e Jair Bolsonaro, respectivamente.

No depoimento para o procurador Eduardo Benones, Queiroz disse ainda que, por indicação de Victor Granado Alves, procurou o advogado Ralph Hage Vianna. No relato de Paulo Marinho, durante a reunião de 13 de dezembro, Vianna foi indicado para atuar na defesa de Queiroz como parte da estratégia de defesa de Flávio. Benones perguntou ao policial se ele conhecia o Vianna e ele confirmou que sim. “Estiveram juntos apenas uma única vez por indicação do Victor Granado, para prestar assistência diante do seu envolvimento na Operação Furna da Onça”, contou Queiroz, e acrescentou que “nunca teve animosidade” com Victor Granado.

Questionado se esteve com Flávio em 13 de dezembro, Queiroz afirmou que “não se lembra”. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro disse que não sabia da história do vazamento na superintendência da PF e tomou conhecimento recentemente pela imprensa. Queiroz afirmou que esteve na sede da PF no Rio apenas acompanhando o chefe. “Apenas com Flávio Bolsonaro, algumas vezes, mas que nunca foi com Victor Granado e nem sozinho”, disse Queiroz. Sobre sua saída do gabinete de Flávio, Queiroz disse que “durante a campanha vinha ajustando com o então deputado Flávio Bolsonaro” para deixar as atividades.

Em outros trechos do depoimento revelados pelo Jornal Nacional na segunda-feira, Queiroz disse que depois que a movimentação atípica se tornou pública ele conversou com Flávio para “dar satisfação”.

— Eu tinha que dar uma satisfação para ele. Aí encontrei com ele, demorou cinco minutos. Eu estava com muito vergonha, porque, quando aconteceu isso… é um fato isolado meu. E ele falou, estava desorientado. ‘Que que você fez, eu não acredito’. Eu resumi para ele sobre a ocorrência e nunca mais estive com ele — disse, ao afirmar também, que pretendia ter um cargo em Brasília após as eleições.

Para o MP do Rio, que investiga a rachadinha, Queiroz era o operador do esquema que fazia lavagem de dinheiro por meio de imóveis e da loja de chocolates do senador. Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões em 483 depósitos de outros assessores do gabinete. Além disso, os investigadores localizaram imagens de Queiroz pagando despesas pessoais de Flávio em dinheiro vivo. Ele agora cumpre prisão domiciliar em seu apartamento na Taquara depois de ter sido preso na casa do advogado Frederick Wassef, que defendia Flávio na investigação. O senador agora é defendido pelos advogados Rodrigo Roca, Luciana Pires, Juliana Bierrenbach e Renata Azevedo.

Marcelo Ramalho, que atua na defesa de Victor Granado Alves, disse que “considerando a relação profissional (cliente e advogado), não podemos tecer quaisquer considerações”. Ele também é investigado no procedimento que apura peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no MP do Rio.

Christiano Fragoso não retornou aos contatos da reportagem. Em maio, Vianna afirmou, por nota, que foi procurado por Queiroz “após sua intimação pelo Ministério Público Estadual, mas não seguiu na causa, não podendo passar maiores detalhes”.

Paulo Marinho também disse que a defesa de Flávio e Queiroz que estava sendo montada pelos advogados Christiano Fragoso e Ralph Hage Vianna, respectivamente, mudou depois do dia 18 de dezembro. No relato de Marinho, Flávio almoçou com ele no restaurante Esplanada Grill, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, depois da cerimônia de diplomação do mandato no Senado, e contou que tinha mudado de estratégia jurídica a pedido de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. Depois disso, o advogado Frederick Wassef assumiu a defesa de Flávio.

Parte das informações de Marinho são corroboradas pelas mudanças na defesa de Queiroz. Até aquele momento, o ex-chefe de segurança de Flávio era defendido pelo advogado Cezar Tanner. Queiroz confirmou ao procurador que “depois do dia 6 (de dezembro) foi assistido por um advogado amigo seu, reformado da polícia militar”. Quando o escândalo foi noticiado pela imprensa, em 2018, ele disse que estava em casa. Depois da mudança na defesa de Flávio, Queiroz também trocou de advogado e passou a ser representado por Paulo Klein que deixou o caso em dezembro de 2019.

Agora, Paulo Emílio Catta Preta defende o policial. Em nota, a defesa de Fabrício Queiroz disse que “repudia a insinuação de que ele tenha dado satisfação acerca de rachadinhas ao então recém eleito senador Flávio Bolsonaro”. Segundo o advogado, ele “deu satisfação acerca dos fatos investigados, a mesma que após a comprovação judicial conduzirá à sua absolvição em face de eventual ação penal que, ressalte-se, não foi sequer proposta.”

O Globo