Secretário preso era ponte entre Maia e Doria

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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A operação da Polícia Federal que prendeu o secretário de Logística e Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, constrange, de uma só tacada, dois polos do centro que busca se antagonizar com o presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Logo cedo, o governador tuitou que as acusações não se relacionam à atuação do secretário em São Paulo e que confia nos seus esclarecimentos. A defesa de Baldy também rechaçou a relação do secretário com fatos ocorridos em 2013 nos contratos de um hospital em Goiânia, da época em que foi secretário do governo Marconi Perillo (PSDB).

Desde o início da manhã de ontem, porém, a rede bolsonarista já havia começado a circular, nas redes sociais, a imagem de lotes de dinheiro vivo supostamente encontrados na casa do secretário paulista em Brasília. A Operação Dardanários foi autorizada pela justiça federal do Rio para apurar esquemas de corrupção envolvendo contratos na área de Saúde do governo Sérgio Cabral.

Tucanos atribuem a operação ao alinhamento político entre o juiz que a autorizou, Marcelo Bretas, e o presidente Jair Bolsonaro. Lembram ainda que governadores, como Wilson Witzel (PSC), do Rio, e colaboradores de outros governadores não alinhados a Bolsonaro, como Wellington Dias (PT), do Piauí, e Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco também têm sido alvos recentes da Polícia Federal.

No comando daquela que é, tradicionalmente, o eixo das obras do governo de São Paulo, por agregar os orçamentos de metrô, rodovias, ferrovias e portos, foi Baldy quem desatravancou a concessão para a Linha 6 do metrô, um projeto que demanda R$ 12 bilhões de investimentos, o maior já feito no Estado.

Ao fechar o acordo para a venda da concessão, do consórcio entre a Odebrecht, Mitsui, Queiroz Galvão e UTC para a empresa espanhola Acciona, Baldy evitou que a licitação, parada desde 2016, caducasse.

No governo Doria, Baldy compunha, junto com o vice-governador, Rodrigo Garcia, e o secretário de Relações Internacionais, Julio Sesson, a trinca mais forte de secretários estaduais. Formava, junto com Henrique Meirelles (Fazenda), Antonio Imbassahy (chefe do escritório em Brasília) e Rossieli Soares (Educação) a equipe de não paulistas e ex-colaboradores do governo Michel Temer com a qual Doria buscou, desde o início, nacionalizar sua gestão e imagem e dar caráter de “ministério” à equipe.

A ida de Baldy para o governo paulista deu-se depois de sua passagem pelo Ministério das Cidades no governo Michel Temer, cargo para o qual foi indicado por Rodrigo Maia. Sua experiência na Pasta facilitou o trânsito em Brasília da negociação das compensações, para as empresas de transportes urbanos, das perdas decorrentes da pandemia.

A proximidade de Baldy com Maia também facilitou a indicação para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) de um primo, Rodrigo Sérgio Dias, também preso pela operação de ontem. A gestão de Dias foi abreviada em dezembro do ano passado, ao ser demitido pelo ex-ministro Abraham Weintraub, dando início a um período de estremecimento nas relações entre Maia e Bolsonaro que dura até hoje.

Ao longo da primeira gestão de Maia como presidente da Câmara dos Deputados, Baldy foi agraciado com relatorias importantes, como a repatriação de ativos, a convalidação de benefícios fiscais dos Estados e os acordos de leniência no Banco Central e na Comissão de Valores Imobiliários (CVM).

Depois de iniciar sua carreira política pelo PSDB, Baldy foi filiado ao Podemos, partido do qual foi líder na Câmara e, em 2017, passou para o PP. No governo Doria, porém, atuava em proximidade com o DEM de Rodrigo Maia, que tem o segundo cargo em importância no Palácio dos Bandeiras, o do vice-governador, Rodrigo Garcia.

Baldy é o segundo secretário de Doria licenciado por suposto envolvimento com escândalos de corrupção. O primeiro, o ex-senador Gilberto Kassab, foi excluído da equipe desde a posse. Alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de recebimento de propina da JBS, ainda em dezembro de 2018, Kassab foi nomeado secretário da Casa Civil e pediu licença do cargo, condição que mantém até hoje.

Valor Econômico