Lava Jato defende atuação política de Dallagnol nas redes
Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
Membros da força-tarefa da Lava-Jato do Paraná divulgaram neste domingo um vídeo e uma nota em apoio ao procurador Deltan Dallagnol. Os integrantes do grupo criticaram a decisão do ministro Gilmar Mendes que liberou o julgamento de dois processos disciplinares contra Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Os casos estão relacionados a questionamentos sobre a conduta de Dallagnol nas redes sociais, onde ao longo de seis anos como coordenador da operação o procurador externou suas opiniões sobre assuntos que, segundo sua visão, poderiam enfraquecer o combate à corrupção. Só no Twitter, por exemplo, Dallagnol tem 1, 3 milhão de seguidores. Lá, o procurador já fez críticas a decisões de ministros do STF, a exemplo de Gilmar, e até atos de seus superiores, como o procurador-geral Augusto Aras, com quem entrou em rota de colisão nos últimos meses. Dallagnol sempre alegou que o fazia em nome de sua liberdade de expressão. Ainda assim, se viu como alvo de uma série de representações no CNMP. Em meio a tantos embates e a descoberta de um problema de saúde familiar, Dallagnol anunciou sua saída da operação na semana passada.
Na gravação, o procurador Alessandro Oliveira, o sucessor de Dallagnol no comando da operação, é um dos que falam em apoio ao colega. O principal argumento é que uma eventual punição a Dallagnol significaria um atentado contra liberdade de expressão de membros do Ministério Público. Também aparecem no vídeo procuradores como Januário Paludo, um dos mais experientes do grupo, além de Roberson Pozzobon e Luciana Cardoso.
Nesta manhã, apoiadores da Lava-Jato fizeram atos em defesa da operação em cidades do país como São Paulo, Goiânia e Brasília. Entre os pleitos estava o pedido de renovação da força-tarefa da Lava-Jato do Paraná, que expira em 10 de setembro, mas cuja decisão depende do procurador-geral, que ainda não se manifestou.
Uma das ações abertas conta Dallagnol foi motivada a pedido do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Ele denunciou o procurador por tentar interferir na eleição para a presidência do Senado, em 2018. Calheiros era candidato e Dallagnol postou mensagens no Twitter dizendo que, com ele no comando da casa, a pauta anticorrupção dificilmente seria aprovada. A disputa acabou vencida por Davi Alcolumbre (DEM-AP).
A outra queixa foi apresentada pela senadora Kátia Abreu (PP-TO) e questiona o acordo firmado pela Lava-Jato com a Petrobras para a destinação de R$ 2, 5 bilhões recuperados pela operação a uma fundação sob a gestão dos procuradores.
A defesa de Dallagnol recorreu ao STF pleiteando liminarmente a suspensão do julgamento. Os advogados do procurador alegavam irregularidades no andamento do processo, entre as quais não ter sido assegurado o amplo direito de defesa. A liminar foi deferida pelo relator do caso, ministro Celso de Mello.Como o ministro decano está em licença médica, o processo foi encaminhado pelo STF para o gabinete de Gilmar Mendes, que se tornou um crítico contumaz da Lava-Jato.
Não é a primeira vez que Dallagnol será julgado pelo CNMP. No mês passado, o órgão arquivou a reclamação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o procurador.
O caso envolvia a entrevista coletiva realizada por Deltan e outros integrantes da força-tarefa para apresentar a primeira denúncia movida contra o petista, que incluiu a exibição de um Powerpoint apontando Lula como chefe da organização criminosa na Petrobras – o crime de organização criminosa, entretanto, estava sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).