Aliança entre Lula e Ciro reproduz estratégia argentina

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

A aproximação entre Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes lembrou estratégias políticas que deram certo em outros países da região, onde ex-presidentes com alto nível de rejeição (alguns mais do que outros) conseguiram voltar ao poder. Argentina e Bolívia são claros exemplos neste sentido. No primeiro, a atual vice-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), surpreendeu ao ceder a candidatura presidencial no ano passado a seu ex-chefe de gabinete, Alberto Fernández, com quem ficou quase dez anos sem falar. Na Bolívia, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) trabalhou no exílio pela candidatura de seu ex-ministro da Economia, Luis Arce, e juntos recuperaram a Presidência para o Movimento Ao Socialismo (MAS).

Os escândalos de corrupção marcaram grande parte da era kirchnerista. A vice argentina já enfrentou um julgamento no qual é acusada de ter favorecido um empresário amigo em concessões de obras públicas. Também estão em mãos da Justiça casos por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, entre outros. Cristina continua sendo uma das políticas argentinas com maior índice de rejeição, em algumas pesquisas superior a 60%.

Apesar disso, o estrategista do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), o equatoriano Jaime Duran Barba, foi um dos poucos que nunca subestimaram a ex-presidente. Em entrevista ao GLOBO, no meio do mandato de Macri, o equatoriano assegurou que, se a economia não decolasse, Cristina poderia voltar. O que Duran Barba não antecipou foi a jogada, para muitos, de mestre. Hoje, a tensão entre Cristina e Fernández é grande, mas essa é outra história.

O que houve na Argentina foi observado de perto por amigos e colaboradores de Lula, entre eles o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve no país na época da eleição presidencial e voltou a visitar Fernández, já como presidente, no começo deste ano. Amorim também fez a ponte, em plena campanha eleitoral argentina, para que Fernández visitasse Lula na prisão, em Curitiba.

Na Bolívia, o MAS de Morales e Arce obteve recentemente uma vitória esmagadora nas urnas. O ex-presidente enfrenta denúncias judiciais por envolvimento sentimental com uma menor de idade e, também, pela atuação de seu governo na crise política de 2019. Entre alguns setores da sociedade boliviana, a rejeição a Morales é elevada. Tanto Fernández como Arce conseguiram, com perfis mais moderados, ampliar a base de apoio eleitoral de seus partidos e alianças.

O Globo