Ataques de Salles a Ramos irritaram militares

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Foto: Marcos Corrêa/PR

As provocações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atingiram não só o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, mas também outros generais com assento no primeiro escalão do governo. A avaliação de militares ouvidos pelo Valor é de que eles não podem ficar sujeitos a uma “humilhação pública dessas”, como classificou um oficial. No Palácio do Planalto, porém, auxiliares do presidente Jair Bolsonaro têm difundido que a reunião junto aos ministros na última sexta-feira foi suficiente para “selar a paz”.

Depois de chamar Ramos de “Maria fofoca” e “banana de pijama”, Salles pediu desculpas ao colega de Esplanada, que também publicou mensagem em busca de entendimento. Embora incomodado com a exposição, Bolsonaro teria sinalizado que não pretende tomar uma atitude brusca no curto prazo, como demissão ou reprimenda pública.

A disputa entre Salles, que tem o apoio dos filhos de Bolsonaro e de integrantes da chamada ala ideológica, e os militares está ligada diretamente a divergências sobre o combate a ilegalidades, desmatamento e queimadas na Amazônia e no Pantanal. O protagonismo do vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia, Hamilton Mourão, do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e de outros oficiais envolvidos em ações extraordinárias na área de Meio Ambiente incomodaram Salles. Outra questão que irritou o ministro foi o congelamento de recursos para atuação do Ibama e outros órgãos vinculados à sua pasta.

O ministro disparou críticas diretas a Ramos por enxergar no general a coordenação de articulações para demovê-lo do cargo. Também pesou o fato de haver descontentamento por fatos anteriores que opuseram Ramos e a ala ideológica. Mas, por ocorrer em um momento em que o Brasil é pressionado por investidores a apresentar resultados no combate à depredação ambiental, a avaliação de militares é de que o caso tirou foco do esforço que está em curso pelo governo.

Questionado por jornalistas hoje sobre o caso, Mourão disse à imprensa que as divergências deveriam ser tratadas internamente, mas que a reunião que Bolsonaro convocou na sexta havia sido suficiente para debelar o conflito.

“Não existe unanimidade [no governo]”, admitiu. “Mas os ministros são o Estado Maior do presidente, se está havendo alguma rusga o comandante tem que intervir e dizer ´vamos baixar a bolinha aí, vamos se acalmar'”, disse.

Mourão também anunciou na entrevista que a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que assegura o trabalho das Forças Armadas na Amazônia, será prorrogada até abril. O atual decreto vence em novembro. A medida é necessária, de acordo com Mourão, para mostrar resultados no combate ao desmatamento.

Valor Econômico