Bolsonaro barra tratamento à população ao politizar vacina

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Foto: Carolina Antunes/PR

Ao politizar o debate sobre a vacina a ser produzida pelo Instituto Butantã, com tecnologia chinesa, o presidente Jair Bolsonaro contraria seus próprios discursos e atos no tema da Covid-19.

Chega a ser irônico ver Bolsonaro dizer-se contra o imunizante até que sua eficácia seja “comprovada cientificamente”, após ter passado meses defendendo tratamento precoce para a doença com cloroquina, medicamento que vem sendo descartado como alternativa após sucessivas pesquisas.

Bolsonaro diz ainda não poder fazer “um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem”. Há dois meses, o presidente realizou um evento no Palácio do Planalto para assinar uma Medida Provisória liberando quase R$ 2 bilhões para adquirir a vacina de Oxford, que encontra-se na mesma fase de pesquisas que a Coronavac.

O presidente chama o imunizante do Butantã como “vacina chinesa de Doria”, e é aí que se encontra o verdadeiro motivo da decisão de suspender as negociações para a compra. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é um desafeto seu e, registre-se, tenta usar o tema para angariar popularidade. Pesa também o fato de a origem do imunizante ser da China, enquanto Bolsonaro procura o tempo todo fazer acenos aos Estados Unidos na guerra comercial entre os dois países, como no caso do 5G.

Os atos do Ministério da Saúde nesta semana mostram que a negociação vinha ocorrendo da forma correta, do ponto de vista técnico. Ao enviar um ofício e depois falar do tema com os governadores, o ministro Eduardo Pazuello não se comprometia a fazer nenhum “bilionário aporte financeiro” para comprar a vacina sem que ela estivesse “comprovada cientificamente”. O ofício do ministro é bem claro: o negócio só ocorreria após o imunizante conseguir o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao interditar as conversas sobre o tema, Bolsonaro mira apenas Doria e esquece da busca por uma solução para a tão esperada volta à normalidade pós-pandemia.

O Globo