Brasil mente para a ONU sobre arapongas na COP

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Foto: Reprodução

O envio de agentes secretos para a conferência do clima em Madri, como revelou reportagem de Felipe Frazão, do jornal o “Estado de S. Paulo”, foi uma quebra completa das regras do jogo. Primeiro, o governo mentiu para a ONU, mas o mais grave é que esse caso revelou o uso da estrutura do Estado para espionar brasileiros e ameaçar a liberdade de expressão.

A ONU não foi informada que eles eram agentes secretos, ela foi enganada pelo governo brasileiro. Essa é a primeira parte da história. Quem já cobriu uma conferência internacional sabe que há diferentes crachás, e dependendo da cor há possibilidades maiores de se entrar nas conversas. As barreiras vão se abrindo dependendo das cores de identificação. A imprensa tem um nível de acesso, depois há os observadores, as ONGs, e há quem participe de tudo, com proximidade inclusive dos chefes de Estado.

Se você é considerado “parte”, você é um negociador de um país. O governo brasileiro colocou um crachá falso nos agentes secretos como seu representante. Então eles puderem entrar e observar o que faziam diplomatas e outros negociadores. O governo disse que eles foram enviados para fiscalizar as ONGs, o que não faz sentido, porque as organizações não governamentais fazem eventos abertos. Convidam todos que estão lá.

Quem de fato acabou sendo constrangido foram os negociadores brasileiros. Há diversas manobras e estratégias que são feitas quando os diplomatas estão na mesa de negociação. Eles podem ser taxados de “maus brasileiros”, na visão do general Heleno, apenas porque fizeram movimentos para ter algum outro tipo de apoio mais à frente. A diplomacia é a arte da sutileza, enquanto o serviço secreto é a arte da paranoia. Vê perigo em tudo.

Em relação às ONGs que eles confessadamente foram vigiar e fiscalizar é outro absurdo do ponto de vista da democracia. A declaração/confissão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, de que sim, mandou vigiar “maus brasileiros”, é o final de uma história que foi torta desde o início.

Ele confessa que como ministro de Estado é capaz de dizer quem é bom e quem é mau brasileiro. Ou seja, bom brasileiro é quem concorda com o governo e mau brasileiro é quem discorda do governo. Isso é o uso do Estado para ameaçar a liberdade de expressão, opinião, a movimentação da sociedade, é uso indevido do Estado. Quem já viu uma ditadura sabe exatamente o que é isso. Naquela época o SNI achava que todo mundo que não concordasse com o governo era mau brasileiro. Sobre eles poderia recair todo tipo de arbítrio e violência porque eles eram maus brasileiros, eram ameaça à segurança nacional. Qualquer pessoa que discordasse. É um pensamento totalitário que mostra que o general Heleno nunca saiu da ditadura. A ditadura saiu do Brasil, mas nunca saiu do conjunto de convicções e crenças do general. E ele usa isso contra os brasileiros e contra a democracia. É o aparato do Estado contra as liberdades democráticas.

O Congresso pensa e deve investigar esse episódio, porque esse tipo de comportamento não pode acontecer. Fere todos os princípios democráticos.

O Globo