Carluxo começa a usar fundo eleitoral que criticou

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Foto: Reprodução

Dados parciais de prestação de contas das campanhas eleitorais divulgados pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE) mostram que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) se beneficiou de uma doação do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, com origem no fundo eleitoral, que ele criticou em vídeo publicado nas redes sociais. Segundo os documentos enviados à Justiça Eleitoral, R$ 22.125 em materiais de campanha foram recebidos da chapa de Crivella, o que corresponde a 33,5% do total de receitas declarado por Carlos. Do total gasto pelo prefeito com peças publicitárias, 26% foram destinados para santinhos e adesivos em que ele aparece ao lado de integrantes da família Bolsonaro.

Lista de receitas da campanha de Carlos Bolsonaro mostra Marcelo Crivella na primeira posição Foto: Reprodução / TSE

De acordo com a declaração, o filho do presidente Jair Bolsonaro recebeu o valor em adesivos e santinhos, em cinco repasses diferentes entre os dias 1º e 16 de outubro. Todos os registros antecedem a publicação de um vídeo em redes sociais em que Carlos pede doações para a campanha, no dia 18 de outubro, justificando que está “evitando ao máximo” utilizar os recursos do fundão. Na postagem, ele ainda criticou os candidatos que usarão as verbas públicas sem se preocupar.

Investimento do atual prefeito na campanha de Carlos Bolsonaro foi feito em material de campanha Foto: Reprodução / TSE

Outro integrante do clã Bolsonaro que está fazendo uso de fundos públicos para as eleições municipais deste ano é a mãe de Carlos e ex-esposa do presidente, Rogeria Bolsonaro. Ela está tentando um retorno para a Câmara dos Vereadores do Rio após quase 20 anos afastada da política, e já recebeu R$100 mil reais do Republicanos, partido ao qual também está filiada, no dia 13 de outubro. O dinheiro, doado pelo diretório nacional do partido representa quase 90% das receitas de campanha de Rogeria, que recebeu mais R$ 14.078,25 divididos em doações de pessoas físicas. Até agora, Carlos não registrou nenhuma verba recebida diretamente do partido.

Crivella insiste desde o início da campanha eleitoral na associação de sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro, na tentativa de conquistar o eleitorado cativo do presidente. Além das peças publicitárias com fotos e vídeos, que incluem até o versículo que é o predileto de Bolsonaro, João 8:32 — “Conhecereis e verdade, e a verdade vos libertará”—, o candidato do Republicanos está investindo alto para reafirmar sua imagem ao lado de outros candidatos do clã.

Nos documentos entregues ao TSE, Crivella registra um total de R$ 1.716.785,11 em recursos recebidos, sendo 97% do fundo especial. Do total de mais de R$ 980 mil pagos até agora, R$783.447,33 foram destinados à Gráfica e Editora Príncipe da Paz Eireli. Foram registrados até agora 723 pedidos para a empresa, entre adesivos e santinhos, ajudando indiretamente centenas de candidatos a divulgar suas imagens.

Nesta lista, Crivella deixa claro quem ele quer ao lado dele na campanha: no total, o investimento do candidato do Republicanos em material de campanha ao lado de integrantes da família Bolsonaro foi de mais de R$ 205 mil.

No dia 1º de outubro, a campanha de Crivella registrou gasto de R$ 900 para produzir santinhos em que aparece com Rogeria Bolsonaro e, no dia 16 de outubro, mais R$ 18.325 para confeccionar adesivos de vinil com a candidata. Para materiais em que aparece junto de Carlos Bolsonaro, Crivella declarou R$ 20.125, sendo dois repasses para produção de santinhos, totalizando R$ 1.800, e R$ 18.325, no dia 16 de outubro, para produzir adesivos. Já a campanha de Carlos declarou ter recebido R$ 22.125 em material de campanha de Crivella, em valores estimados.

Além do investimento na imagem de Carlos e Rogeria, Crivella gastou ainda mais para produzir materiais em que aparece com o presidente Jair Bolsonaro. Foram cerca de R$ 29 mil para adesivos “Crivella+Bolsonaro”, R$ 72 mil em santinhos apenas ao lado de Jair e mais R$ 63 mil para os santinhos em que aparece com a vice Tenente-coronel Andréa Firmo e o presidente.

Atrás da família Bolsonaro outros nomes de aliados importantes para Crivella aparecem na lista, mas com muito menos prestígio do que o clã presidencial. O vereador e candidato Felipe Michel (PSDB), que prometeu ser “soldado” de Crivella e trabalhou para barrar o impeachment do prefeito, foi contemplado por cinco repasses do prefeito para produção de material gráfico, totalizando R$ 11.700. Desse valor, pelo menos R$ 3.600 foram dedicados à peças que usam a usam Linha Amarela como palanque eleitoral.

Além dele, o prefeito fez questão de contemplar com a produção de material de campanha alguns dos integrantes do grupo “guardiões do Crivella”, que utilizava funcionários da prefeitura para impedir denúncias e reclamações na porta de hospitais. Para aparecer com o líder da bancada governista, vereador Dr. Jairinho (MDB), Crivella investiu R$ 8.165 em santinhos e adesivos. Já com Zico (Republicanos), o prefeito gastou R$ 8.200 para fabricar o material.

As críticas de Carlos sobre o uso de recursos do fundo eleitoral endossam o posicionamento de Jair Bolsonaro. Em janeiro deste ano o presidente atacou o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que garante R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral e defendeu que a população não vote em parlamentares que usarem recursos do chamado “fundão”. Apesar das críticas, Bolsonaro não vetou a aprovação do fundo.

— Terei um momento difícil pela frente. A questão dos R$ 2 bilhões do fundão. Lanço a campanha aqui: não vote em parlamentar que recebe fundão — afirmou Bolsonaro na época, sob aplausos de dezenas de apoiadores ao participar da inauguração de um pronto socorro em Santos, São Paulo.

No vídeo publicado nas redes sociais no dia 18, o vereador declarou que sem as doações, seus seguidores correm “o risco de eleger pessoas que não estão nem um pouco preocupadas na utilização do fundão ou não e estão utilizando R$ 500 mil, R$ 1 milhão para a campanha desses fundos”. E completou pedindo que os eleitores ajudem na campanha para evitar que “outra pessoa que talvez não represente os ideais que os senhores desejam”, seja eleita.

– Infelizmente, nós só temos arrecadado até agora, por doações minhas e do meu pai, cerca de R$ 20 mil. Nossa eleição corre risco. Se fosse possível e fosse do desejo dos senhores que nos apoiassem fazendo a doação do que for possível dentro da realidade que todos nós estamos passando – afirma Bolsonaro.

Entre as outras receitas registradas pela campanha de Carlos Bolsonaro contam pouco mais de R$ 20 mil vindos de financiamento coletivo, R$ 11 mil doados diretamente por Jair Bolsonaro, R$ 10 mil do próprio bolso e R$ 2 mil do advogado Rogerio Cupti de Medeiros Junior, descrito como “contrato de prestação de serviço profissional sem remuneração”. No vídeo publicado Carlos menciona que só havia recebido R$ 20 mil reais em doações dele e do pai, mas agora a campanha já totaliza R$65.920,38 em receitas.

Para substituir os recursos dos fundos de campanha que Carlos afirmou pretender não usar, o candidato criou uma página em uma plataforma de financiamento coletivos. O site é voltado apenas para financiamento de campanhas políticas e está em funcionamento desde as eleições de 2018, após a reforma eleitoral de 2017, que permitiu o financiamento coletivo como uma via de arrecadação de recursos para campanhas eleitorais.

No ranking da plataforma, Carlos já aparece em segundo lugar entre os candidatos que receberam mais doações para o pleito deste ano. Até agora, ele recebeu 431 doações,, totalizando R$ 50.254,38.

O Globo