Comunidade judaica exige explicações de governadora de SC

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Foto: Reprodução

Depois da repercussão negativa por não ter dito se concordava com as ideias de Adolf Hitler, a governadora-interina Daniela Reinehr (sem partido) declarou, nesta quinta-feira, ser “contrária ao nazismo, assim como qualquer regime que vá contra os direitos individuais, garantias de segurança ou contra a vida das pessoas”.

A governadora foi questionada na terça-feira, durante coletiva de sua posse, se pensava como seu pai, Altair Reinehr. Professor de história, ele já escreveu textos relativizando o Holocausto e a Alemanha da Segunda Guerra Mundial.

Ela se limitou a dizer que não queria ser julgada por atos de terceiros, como havia acontecido no processo de impeachment que afastou Carlos Moisés (PSL) e a levou ao cargo.

“Sinceramente, pensei ter deixado isso claro quando fui questionada durante entrevista coletiva, independente das palavras usadas”, disse ela por meio de nota.

“Consigo entender a reação das pessoas ante o posicionamento que me imputaram, e principalmente porque isso aconteceu de forma injusta, a partir de uma atitude antiética, que apresentou um vídeo editado, com uma pergunta alterada. Sou amiga de Israel e dos Judeus, e qualquer ilação contrária não corresponde com a verdade”.

O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, divulgou uma carta, nesta quinta-feira, em que disse estar satisfeito com a retratação da governadora interina, “mediante a pressão justa da comunidade judaica”. Ele afirmou esperar que esse posicionamento seja mantido como um compromisso de Daniela Reinehr com o que chamou de “verdade histórica”.

“Negar o Holocausto é um desrespeito não só ao povo judeu, mas a todas as demais vítimas deste regime. O silêncio nunca será um conforto para as vítimas e tampouco condenação para os nazistas. Holocausto nunca mais!”, diz um trecho da carta do embaixador israelense. Shelley destacou que o Brasil possui a segunda maior comunidade judaica da América Latina. Acrescentou que, além disso, há um número expressivo de brasileiros não judeus que apoiam a causa judaica das mais diversas formas.

Na quarta-feira, diversas organizações judaicas repudiaram a resposta de Daniela Reinehr e pediram que ela se posicionasse com mais ênfase e convicção. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Israelita Catarinense (AIC) divulgaram um comunicado conjunto declarando serem “preocupantes” os relatos de que o pai da governadora “é simpatizante do nazismo e do genocida Adolf Hitler”.

A organização Judeus pela Democracia se manifestou no Twitter. “Daniela Reinehr diz que deve ser julgada por suas convicções e não de seu pai (assumido nazi), mas até agora não as expôs. Quando perguntada, foge. É antinazista? Nega o holocausto? Fato é que hoje no Brasil, a governadora é incapaz de responder diretamente às perguntas acima”.

Daniela Reinehr assumiu o cargo de Carlos Moisés na terça-feira, após ele ter sido afastado no último sábado pelo Tribunal Especial de Julgamento. O rito fez parte do processo de impeachment pelo qual passavam os dois mandatários — e do qual Reinehr se livrou com um voto de desempate do presidente do Tribunal de Justiça, Ricardo Roesler.

Os dois respondiam por improbidade administrativa por causa de um aumento salarial dado a procuradores do Estado em 2019. Segundo a acusação, a medida deveria ter passado antes pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). A defesa de Reinehr afirmava que a então vice-governadora tinha tomado todas as medidas cabíveis quando, ao ocupar o governo catarinense durante as férias de Moisés, chegou até ela um documento questionando a legalidade do reajuste salarial.

O Globo