Delegado diz que será difícil recapturar traficante solto pelo STF

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Foto: Polícia Federal

O delegado Fábio Pinheiro Lopes, um dos principais caçadores de bandidos da Polícia paulista e responsável por conduzir a operação que prendeu André do Rap em setembro de 2019, aponta uma série de fatores devem dificultar a recaptura do suposto líder do PCC, como seu ‘poderio financeiro’, sua ‘rede de contatos ‘ e seu ‘trânsito internacional muito grande’. O agente da Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa integra a força-tarefa anunciada pelo governador de São Paulo João Doria para prender o condenado por tráfico de drogas que está foragido após deixar a prisão por ordem do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal.

Segundo Lopes, a força-tarefa anunciada por Doria, que também conta com agentes do Departamento de Operações Policiais Estratégicas e do Departamento Estadual de Investigações Criminais, deve fazer nesta terça, 13, uma reunião para ‘traçar os próximos passos’. O delegado conta que, somente de sua equipe, mobilizou três delegacias para cuidar do caso, e que a Divisão de Capturas do Dope está praticamente dedicada.

As informações conseguidas pelos investigadores apontam que André do Rap teria saído do País, complicando sua recaptura. Os agentes buscam identificar de qual local a aeronave que teria transportado o suposto chefe do PCC teria decolado.

O delegado traça um panorama das investigações que levaram à prisão de André do Rap para apontar as possível dificuldades na recaptura do integrante do PCC. Lopes assumiu a divisão anti-sequestros em janeiro de 2019 e montou uma força-tarefa para procurar criminosos. As apurações que chegaram até André do Rap na verdade buscavam Nicola e Patrick Assisi, apontados como chefes da máfia italiana ‘Ndragheta’.

“Estávamos atrás deles e o André acabou cruzando, porque ele que pegava a droga da América do Sul e mandava para a Europa via Porto de Santos. Acabamos conseguindo monitorar um iate que o André usava e levantamos que ele estava no litoral de Angra, onde o prendemos”, conta o delegado.

Para ressaltar o alto poder aquisitivo de André do Rap, Lopes destacou que no local onde o mesmo foi preso em 2019 foram apreendidos bens que chegam a R$ 28 milhões – duas mansões, dois iates e dois helicópteros – sendo que uma das aeronaves era locada, mas a outra era de propriedade do suposto líder do PCC.

“Então por esse poder aquisitivo, pela rede de contatos – ele já morou na Holanda -, ele tem um trânsito internacional muito grande. Então isso que vai dificultar a recaptura dele. Ele tem varias empresas ‘laranja’ também. Consegue usar esse poderio financeiro para conseguir fugir”, registrou o delegado.

Questionado sobre a decisão de Marco Aurélio – que mandou soltar André do Rap com base de artigo inserido no Código de Processo Penal pelo Pacote Anticrime – Lopes apontou que ‘decisão judicial a Polícia cumpre, não contesta’. O delegado diz que não vê responsabilidade do ministro do Supremo, ‘garantista’ segundo ele, mas classifica o artigo inserido no Código de Processo Penal pela lei Anticrime um ‘absurdo’.

“Enquanto eles (os deputados) fizerem a legislação para beneficio próprio e não da sociedade a gente vai ter esse tipo de coisa. É o seguinte, quando o juiz decreta a preventiva, é que a pessoa esta sendo uma ameaça pra sociedade – para ela não fugir e para garantir a instrução do processo. Aí os políticos naquela lei anticrime inseriram esse artigo absurdo”, disse Lopes.

“A falha se for ver foi do próprio Judiciário. Quem tinha que ter renovado as preventivas teria que ser ou a Justiça federal de Santos ou o Tribunal Regional Federal. Na minha opinião, o ministro tinha que ter cobrado essas instâncias inferiores em vez de soltá-lo. Agora, cada um faz o que acha conveniente, mas o errado é a lei”, completou.

Estadão