Novo líder do governo na Câmara é visto como “estrategista”

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Calado, discreto e sempre na sombra das interlocuções políticas do PP, seu partido, e do grupo de parlamentares que compõe o centrão, o deputado federal Ricardo Barros (PR) voltou a um posto conhecido seu, a liderança do governo, e em pouco tempo já assumiu uma posição de destaque no entorno da Presidência.

Coube a ele, na segunda-feira passada, anunciar a criação do programa Renda Cidadã, que deve substituir o Bolsa Família. Também foi o deputado que, junto com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), retirou o ministro da Economia Paulo Guedes de uma entrevista coletiva, na qual ele falava sobre o fim do auxílio emergencial, tema delicado para o governo.

Homem de negócios, Barros sempre teve apetite para a política. Ocupou o posto de líder também no governo Fernando Henrique e foi vice-líder de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, além de ministro da Saúde de Michel Temer. Entrou de sola como líder do governo Bolsonaro na Câmara ofertando um equilíbrio sempre necessário no Congresso. A chamada “ala ideológica” do governo não é a praia de Barros.

— Ele é centrão-raiz. E sabe que o PP tem o DNA governista — resume um de seus aliados de bancada.

Barros, o senador Ciro Nogueira (PI) e o deputado Arthur Lira (AL), todos do PP, foram o vértice que levou o centrão a sustentar a base de Bolsonaro na Câmara. Segundo adversários e aliados, uma mudança de estratégia saiu da cabeça de Barros: aconselhar Bolsonaro a diminuir a carga na agenda de costumes e nas aparições performáticas nos fins de semana, com frases de efeito, e se concentrar na pauta econômica.

Os ruralistas imediatamente se interessaram pela tentativa de inversão de prioridades. A principal crítica dos parlamentares é que Bolsonaro, ao dar ênfase a temas conservadores, falava apenas aos convertidos. E que a agenda do país estava encalhada.

O deputado chamou a atenção do presidente Jair Bolsonaro por seu temperamento protocolar, sem histrionismos, um olhar ultraconservador para a questão dos costumes, a mesma visão sobre o que o governo considera excesso na atuação do Judiciário e o cuidado que reserva às Forças Armadas — semelhante ao que mantém com a Polícia Militar do Paraná. No estado, é considerado experiente empresário do setor da construção civil e da gestão ambiental.

Vindo de uma família que durante décadas foi onipresente na cidade de Maringá (seu pai, seu irmão e o próprio deputado foram prefeitos), Barros é um estrategista.

A história familiar do novo líder do governo merece um capítulo à parte. Seu avô materno, Odwaldo Bueno Netto, foi um comerciante que, durante décadas, controlou parte da vida econômica da ilha de Santa Helena, território inglês ultramarino localizado no sul do oceano Atlântico, onde morreu Napoleão Bonaparte, em 1821. Ainda jovem, Netto encantou-se pela ilha, atualmente com menos de cinco mil habitantes. Casou-se com uma inglesa, chegou a ser dono do primeiro cinema e ganhou muito dinheiro com a exportação de lagostas para o mercado argentino. Sua história foi contada por Guimarães Rosa numa coluna jornalística intitulada “O homem de Santa Helena”, publicada em 1953. Na volta ao Brasil, a família se instalou no Paraná, onde Barros iniciou sua carreira política, seguindo os passos do pai.

No Congresso, tem fama de ser um dos especialistas em “ler o painel”, ou seja, em entender os tempos de discussão e oportunidades de aprovação das propostas legislativas. Já está em seu sexto mandato como deputado. No começo de 2019, perguntava a quem quisesse ouvir: “Qual será a moeda de troca de Bolsonaro no Congresso?”. Menos de dois anos depois, por indicação de Ciro Nogueira, Barros se impôs como uma das principais influências do círculo de assessores diretos do presidente.

Seu crescimento dentro do governo coincidiu com o afastamento da chamada ala ideológica, influenciada pelo ideólogo de direita Olavo de Carvalho, das questões do dia a dia da política. Foram moderados os choques com o Supremo Tribunal Federal e melhorou a relação com o Congresso. Barros se entendeu rapidamente com a ala militar, especialmente com o ministro Luiz Eduardo Ramos.

O deputado sempre teve boas relações com a caserna. A candidata do PP à prefeitura de Maringá é a coronel da PM Audilene Dias Rocha, com a qual a família Barros pretende retomar o poder local.

A mulher de Barros, Cida Borghetti, assumiu o governo do estado em 2018, quando o então governador Beto Richa, alvo da Operação Lava-Jato, renunciou para disputar o Senado. Nas eleições daquele ano, Cida disputou o governo estadual, mas perdeu.

O próprio Barros está no centro de uma denúncia por suposto recebimento de propina. Numa delação premiada, representantes da Galvão Engenharia afirmaram ter pagado R$ 5 milhões ao deputado para facilitar negociações com a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). Em nota, Barros negou pagamentos ilegais.

O Globo