O dedo podre de Jair Bolsonaro

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Foto: Alan Santos/PR/Reprodução

Você pode dizer que ainda é cedo para se fazer projeções, e eu devo concordar. Mas não dá para espiar o desenvolvimento das campanhas municipais sem se constatar o óbvio. Até aqui, o grande derrotado é Jair Bolsonaro. Seu dedo de ouro das eleições de 2018 aparentemente virou um dedo podre. Para onde ele aponta, é dali mesmo que não sai nada. As pesquisas não deixam margem para dúvida. Segundo o Datafolha de quinta passada, Bolsonaro perde em São Paulo, com Russomanno, no Rio, com Crivella, e em Belo Horizonte, com Engler. Os três mereceram o apoio explícito do capitão.

Em BH, o candidato bolsonarista tem apenas 3% das intenções de voto. Está certo que lá o prefeito deve ser reeleito no primeiro turno, mas mesmo assim, onde anda a pujança do presidente? O nome apoiado por ele rasteja por migalhas eleitorais. No Rio, o malfadado bispo Crivella corre sério risco de não ir para o segundo turno. Se os cariocas respiram aliviados com a boa nova, os três zeros do presidente tentam entender por que a coisa vai tão mal na cidade que deveria lhes pertencer. E em São Paulo, Russomanno derrete sob a luz do sol. Se continuar nesse ritmo, também perde a vaga no segundo turno.

Curioso é que os candidatos apoiados por Bolsonaro podem ser passados para trás por adversários de partidos de esquerda, ou de centro-esquerda. No Rio, a delegada Martha Rocha, do PDT, já empatou com Crivella, com uma curva de intenções de votos em ascendência contra a descendente do bispo. Em São Paulo, o quadro não é menos dramático. Em um mês, Guilherme Boulos, do PSOL, subiu de 9% para 14%, enquanto o candidato do capitão despencou de 29% para 20%. E faltam ainda três semanas para o primeiro turno. Bruno Covas (PSDB) lidera com 23%.

Em apenas três capitais candidatos claramente bolsonaristas estão à frente nas pesquisas. Em Fortaleza, o capitão Wagner, do PROS, tinha entre os dias 12 e 14 de outubro, segundo o Ibope, 28% das intenções de voto contra 23% de Luizianne Lins, do PT. Em Goiânia, levantamento do Ibope entre 30 de setembro e 2 de outubro indicava Vanderlan Cardoso (PSD) com 21% contra 20% de Maguito Vilela (MDB). E em Cuiabá, o candidato Abílio Jr. (Podemos) tinha 26%, entre 14 e 16 de outubro, contra 20% dados a Emanuel Pinheiro (MDB).

No restante do país, os candidatos de Bolsonaro comem poeira. Partidos de esquerda e centro-esquerda estão na frente em nove capitais. PSDB em quatro, PSB em duas, PSOL, PDT e PCdoB em uma cada. Em Recife, João Campos (PSB) tem 31% das intenções contra 18% da sua prima Marília Arraes (PT) e 16% da delegada Patrícia (Podemos). Lá, o candidato com a cara de Bolsonaro é o coronel Feitosa (PSC), que tem apenas 2% de acordo com a pesquisa Datafolha de quinta-feira. Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) lidera pesquisa Ibope feita há duas semanas com 24% dos votos, dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado.

O que se vê é um aparente refluxo da onda bolsonarista. E não adianta argumentar de que estas são outras eleições e que pleitos municipais tratam de questões paroquiais e não refletem a grande política nacional. Isso pode ser verdade em Conceição do Mato Dentro (MG), Iguaba Grande (RJ) e Júlio de Castilhos (RS), mas não em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre ou Recife. Pode ser verdade também na mixuruca Jaboticabal, no interior de São Paulo. Mas lá, um dos candidatos tem sobrenome Bolsonaro, se apresenta como primo do presidente, propõe armar a guarda municipal e jura que não vai ceder à pressão de vereadores por cargos na prefeitura. Então, quer pauta mais local do que esta?

Estão ficando cada dia mais claros os sinais de que sua excelência está voltando aos velhos tempos. A estúpida briga em torno da vacina chinesa é apenas um deles. Não há nada mais atrasado do que tentar fazer valer para todo o país suas teorias negacionistas por motivação política. Há os que apostam, ou torcem, para que seja apenas retórica. Pode ser, mas a absoluta falta de hora para a nova bobageira prova a tese de que as coisas não andam bem naquela cabeça. Beligerância burra foi o que se viu nos primeiros 18 meses de governo. Ninguém aguenta mais.

Era só o que faltava. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações veio à público afirmar que descobriu que o vermífugo nitazoxanida é capaz de reduzir a carga viral de pacientes de Covid usando como elemento de convencimento um gráfico genérico comprado de um banco de dados na internet. Ou pirateado, com este governo nunca se sabe. Pior, tratou a questão de maneira oficial, em cerimônia no Palácio do Planalto, sem reunir sequer um elemento que comprove a descoberta. A situação é tão medonha, que o ministério do astronauta disse que não oferecia mais dados porque um artigo com a tese foi oferecido a uma revista científica internacional. Talvez não quisessem tirar o furo da revista cujo nome, aliás, não foi citado.

Estudo mostra que o cérebro da maioria das pessoas passa 47% do tempo divagando. Há casos bem piores.

Se for correta a tese da Procuradoria-Geral da República de que militar da ativa pode exercer posto de ministro, então deve ser possível também que milico com diploma de doutor exerça função no Ministério Público. Augusto Aras que abra o olho, daqui a pouco o capitão pode querer indicar um general com curso noturno de advogado para o seu lugar.

O episódio do dinheiro nas nádegas do senador Chico Rodrigues levantou o debate sobre os suplentes, já que o indigitado tem seu filho como segundo e que deve assumir a vaga com seu afastamento. Uma vergonha. Mas, indo um pouco mais fundo, não seria hora de discutir para que serve o Senado Federal? Talvez assim se possa entender porque o Amapá (751 mil habitantes) tem o mesmo número de senadores de São Paulo (44 milhões de habitantes). Davi Alcolumbre, por exemplo, teve 131.695 votos, enquanto o Major Olímpio foi eleito com o sufrágio de 9.039.523 paulistas. Está certo?

O debate de quinta deu um fôlego inesperado a Trump. Ele aproveitou a última chance que tinha. Ainda assim, ele deve ser varrido do mapa, mas já não dá para afirmar que será com uma avalanche de votos contra. Quarenta milhões de americanos já votaram antecipadamente, e 90% dos eleitores dizem que não mudam o voto por causa de debate.

E, nesse caso, Bolsonaro como vai ficar? Sua birra com a China e o bonezinho Trump 2020 ainda podem render muita dor de cabeça. Não para ele, que não está nem aí, mas sim para o Brasil e seus negócios. Só um detalhe: a China consome 50% de todo metal produzido no planeta.

Estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças nos Estados Unidos mostra que adultos que testaram positivo para Covid-19 foram duas vezes mais a restaurantes nas duas semanas antecedentes ao teste do que as que negativadas.

Eduardo Paes está tão preocupado com o crescimento de Martha Rocha nas pesquisas, que vai mexer na campanha para mirar mais na delegada e menos no bispo Crivella. E já avisou aos cabos eleitorais que, onde não for possível ganhar, recomendem voto em Crivella.

O Globo